segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

CLICHÊ

Desejo um Feliz Natal e um próspero Ano Novo a todos, em especial aos 3 leitores deste blog.

Hoje e amanhã estarei em uma aventura inigualável: irei à praia... de ônibus! Terça-feira deixarei aqui um texto com o resultado da roubada, digo, aventura.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

"FORA HAOLE" FAZ SEGUIDORES (TSC TSC)

Turista americano é agredido em Florianópolis


Único motivo para a violência foi a nacionalidade de Jeremy Klein

Um turista americano levou 20 pontos na cabeça após ser agredido por três jovens de 19 anos na saída da casa noturna El Divino, na avenida Beira-mar, em Florianópolis, às 4h desta sexta-feira.

O único motivo alegado pelos agressores para bater no turista é o fato de ele ser estrangeiro.

Jeremy Klein, 25 anos, conta que saiu da casa noturna na companhia de um amigo pouco antes das 4h. Quando o amigo saiu para comprar um lanche, ele foi abordado por dois jovens que lhe perguntaram se era americano. Jeremy respondeu que sim e imediatamente um dos agressores tentou lhe dar um soco no rosto.

O turista se defendeu da pancada e explicou que não queria problemas. Os agressores não deram ouvidos e tentaram socar novamente o americano, que, como luta jiu-jitsu, derrubou um dos homens no chão. Nesse momento, recebeu uma pancada forte na cabeça, e começou a sangrar muito.

Um taxista que passava por ali afastou os jovens o tempo necessário para Jeremy fugir correndo. Os agressores chegaram a tentar persegui-lo a pé por cerca de 200 metros, mas não o alcançaram. Jeremy correu até encontrar um Pronto Socorro 24 horas, onde levou 20 pontos na cabeça. Ao sair, ligou para o amigo e descobriu que ele já estava na Central de Polícia, junto com o taxista que o ajudou a fugir.


Agressor detido por dirigir bêbado

Enquanto Jeremy estava no Pronto Socorro, os três agressores e o taxista se envolveram em uma perseguição pelas ruas do Centro da Cidade. A Polícia Militar foi acionada e deteve os jovens quando eles bateram o carro na Praça Getúlio Vargas, por volta das 5h30.

Dois deles prestaram depoimento como testemunhas, mas Bruno Fernandes ficou detido por dirigir embriagado e liberado após pagar fiança de R$ 3,8 mil. Dentro do veículo, a polícia encontrou garrafas de tequila, uísque e energético.

— O americano vem para cá e acha que está na cidade dele — afirmou um dos jovens detidos em entrevista à RBS TV.

Jeremy Klein é natural de Los Angeles e estava havia dois meses em Florianópolis, onde ficará até o fim de ano. Depois, seguirá para a Argentina. Ele acredita que a agressão tenha sido um caso isolado. Revela, porém, que depois do episódio já não confia nas pessoas da cidade como antes.

Fonte: Lucas Amorim (RBS)

Furto no MASP

Salas em que estavam pinturas roubadas não tinham alarme, diz polícia.


Ó céus! Como que um acervo de R$1,8 bilhão pode não ter nem um mísero alarme? Só no Brasil mesmo.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

MBB - MÚSICA BREGA BRASILEIRA

Sempre me falaram em MPB, a Música Popular Brasileira. Esta seria a música que prega a brasilidade, a tropicalidade, em contraposição ao estrangeirismo musical colonizador.

Só que a MPB é literata e, digamos, chata demais para ser popular. O popular, mesmo, no Brasil, sempre foi tido pelos expoentes da MPB como algo repetivivo, sem musicalidade, sem poesia. Ou seja, brega.

O brega foi discriminado pela grande mídia, tendo sido alijado das grandes redes de televisão e dos jornais e revistas de circulação nacional. Ficou relegado, assim, a pequenas gravadoras e rádios AM.

Só que, apesar do esquema amador de divulgação e distribuição, o brega atingiu grande popularidade. Por isso, creio que está na hora de a música brasileira realmente popular definir-se como um gênero musical. Sim, a MBB - Música Brega Brasileira.

Amado Batista, Belchior, Beto Barbosa, Odair José e Wando formam o panteão sagrado desse gênero musical. Suas marcas são justamente aquilo que sempre motivou as críticas vindas da MPB: a melodia repetitiva, os tecladinhos irritantes, a voz anasalada, as rimas fracas, a poesia sacana/erótica/chula.

Condensada em um gênero musical, a MBB tende a afirmar-se como a verdadeira identidade musical brasileira. E com o meu apoio. Antes brega do que emo. Quem for contra, que atire a primeira lágrima.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

ENGODO?

Será que esse tal metrô que anunciaram em Florianópolis vai ser uma relevante obra para a melhoria da qualidade de vida do cidadão? Ou é só mais um engodo para angariar votos em um ano de eleições municipais?

Não seria mais fácil e menos custoso implantar de uma vez o transporte marítimo? Claro, não com essas baleeiras que servem de escunas, mas com aerobarcos ou hovercrafts.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

EDITAL DO METRÔ DA CAPITAL DEVE SER PUBLICADO

Governador anunciou imediata publicação do documento que vai licitar obra

O governador Luiz Henrique da Silveira anunciou, na noite desta quinta-feira, a imediata publicação do edital para licitar o projeto do metrô de superfície da região de Florianópolis. O edital está pronto, e a conclusão dos estudos e anúncio do vencedor deve ser feita no início do segundo semestre de 2008.

O esboço inicial do projeto prevê uma linha que parte de Barreiros, segue pela Beira-Mar Continental, passa pela ponte Hercílio Luz, pelo Mercado Público, por uma alça sob a Hercílio Luz, e prossegue pela Beira-Mar Norte até a Universidade Federal de Santa Catarina(UFSC).

De acordo com o governador, o metrô deve minimizar os efeitos do grande número de veículos que trafegam na cidade, reduzindo os congestionamentos e oferecendo uma opção de transporte confiável.

— É um momento único e uma honra para nosso sindicato sermos os primeiros a receber esta boa notícia. Buscamos diariamente soluções para problemas que impeçam o desenvolvimento da cidade, como é o caso dos gargalos do sistema viário — comentou o presidente do Sinduscon, Helio Bairros.

Fonte: RBS

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

ORGULHO JAPA

Recentemente, foi o Dia da Consciência Negra, e muitas cidades país afora decretaram feriado. Alguns meses antes, houve um tal de dia do orgulho gay (ou da diversidade), e em muitas cidades houve passeatas em que os representantes dessa minoria faziam questão de mostrar-se ao público. E, de orgulho em orgulho, muitas minorias têm conseguido aumentar sua participação na vida política nacional, a ponto de quase não existir mais a maioria.

Falta, porém, uma minoria a ser homenageada: os orientais, ou japas. O termo "japa" é utilizado (às vezes de forma pejorativa) para designar todo migrante vindo do Leste da Ásia. Isso se deve aos japoneses que aqui desembarcaram a partir de 1909, sendo que hoje seus descendentes são a maioria entre os orientais no Brasil. Esse fluxo migratório foi complementado recentemente por chineses e coreanos. De plantações de café a pastelarias e lojas populares, sua ânsia por trabalho em muito contribuiu para o crescimento da economia brasileira.

Muito embora sua relevância para o desenvolvimento econômico do país, a comunidade oriental tem pouca participação política e cultural. Afinal, quantos "japas" temos ou tivemos nos tribunais superiores? No Congresso Nacional? Na Academia Brasileira de Letras? Como Ministros de Estado? Como âncoras de telejornais? Sendo assim, será que eles também não seriam uma minoria discriminada, relegada a alguns cursos de engenharia?

Por isso, proponho às autoridades que empenhem esforços em aprovar, o mais rápido possível, o Dia do Orgulho Japa. É uma questão de justiça, para conceder a essa minoria o reconhecimento que merece. Seria, também, um outro motivo para organizar uma passeata e fechar a Avenida Beira Mar... em pleno domingo! E todos ficaríamos um pouco mais felizes.

Mas felizes, mesmo, seremos no dia em que todos nós comemorarmos o dia do orgulho azul, sem essa de pretos, brancos, amarelos, pardos... Aí sim veremos o quão idiotas fomos em dividir as pessoas por cores, como lápis ou folhas de cartolina.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

HOMONÍMIA

Comunico a todos meus familiares, amigos e conhecidos em geral que morri. Sim, é isso mesmo: agora sou um falecido, um “de cujus”. Um presunto, um “que Deus o tenha”, ou qualquer outro eufemismo que o povo costuma utilizar nessas horas, para amenizar o sofrimento.

Ao menos foi isso que os jornais noticiaram naquele dia. Um acidente horrível, envolvendo dois automóveis. Tragédia mesmo, de tais proporções que não me atrevo a descrevê-la, para não chocar os leitores mais sensíveis. Curiosamente, um sujeito com um nome parecido – sequer igual – com o meu estava envolvido. Não morrera, mas, pelo que vi, encontrava-se ferido com certa gravidade.

A notícia do meu nome – ou melhor, de um nome apenas parecido com o meu – foi o suficiente para que as pessoas relacionassem o semi-homônimo a um dos mortos no acidente. Para piorar, havia a agravante de que essa pessoa estudava na mesma faculdade onde eu me formara havia pouco tempo. Por extensão, correu a notícia de EU fui um desses mortos. A confusão estava instalada.

É, amigos, mataram-me! Pouco após o meio-dia, quando o telejornal recém noticiara a tragédia, começaram os telefonemas. O primeiro deles foi de um amigo que, ainda sonolento, acompanhara a notícia, sem prestar muita atenção. Quando ouviu meu nome, resolveu contactar-me, para desencargo de consciência. Ao perceber que eu estava mais vivo do que ele, pôs-se a fazer seus afazeres rotineiros, no caso, um cochilo vespertino, pois ninguém é de ferro!

Em seguida, o telefone aqui de casa transformou-se em um misto de muro das lamentações com atendimento de operadora de telefonia fixa. Havia, basicamente, três tipos de contatos: o desconfiado, baseado na frase “notícia ruim corre rápido, então não pode ser verdade”; o desinformado, que só queria saber mais sobre o que ocorrera; e o precipitado, esse sim, conformara-se com a minha morte prematura, tendo ligado apenas para expressar suas condolências.

Fato semelhante a esse ocorrera havia alguns anos. Para variar, outro acidente horrível, mas, nesse caso, meu homônimo – aí sim, nome e idade iguais aos meus – não fôra a vítima, mas sim o malfeitor, o meliante, o delinqüente. Pelo que lembro, atropelara dois inocentes pedestres em uma rodovia movimentada. E, por essa razão, encontrava-se detido na delegacia.

Pensem comigo: já imaginaram se um fulano desses foge da cadeia? E já imaginaram se, nesse tempo, resolvo viajar e, na estrada, paro em uma barreira policial? Ah, meus amigos, até explicar que urubu não é louro, provavelmente terei ouvido um “cala a boca, vagabundo”, isso três segundos antes de ser conduzido coercitivamente para a traseira de um camburão.

Deve ser por isso que, em plena madrugada, meu tio telefonou esbaforido, a fim de saber se eu havia passado por aquelas bandas. Pobre coitado, que desgosto sofreria aquele militar aposentado, caso um sobrinho seu se envolvesse em tantos ilícitos do Código Penal, como aquele fulano.

Preocupado com o acontecido, realizei, nessa época, uma rápida pesquisa. Então percebi que meu nome era mais comum do que imaginara, pois em cinco minutos achei, Brasil afora, outras 14 pessoas com nomes idênticos. Nada mais normal: o que mais eu poderia imaginar, considerando os sobrenomes portugueses – e dos mais comuns – que herdei de meus pais?

De certa forma, até é bom saber que, ao menos nessas horas, tantas pessoas preocuparam-se comigo. Mas, pelo visto, serei obrigado a zelar para que as pessoas homonímicas que descobri comportem-se e não façam mais nada de errado nesta vida. Afinal, o nome que está em jogo também é o meu.

(Crônica publicada originalmente em livro resultante do III Concurso Literário da Semana do Servidor de SC. Até comecei a me levar a sério nesse negócio.)

sábado, 17 de novembro de 2007

AFASTAMENTO

Avisando aos 3 leitores deste blog que logo voltaremos à "programação normal". Estive afastado do computador, fazendo laboratório para um teste em Hollywood. Eu iria interpretar o Stevie Wonder num filme, por isso fiquei 20 dias de olhos fechados, portando óculos escuros e cantando "I just called to say I love you". Infelizmente, parece que um tal de Jamie Foxx ganhou o meu lugar, por causa das cotas e da experiência anterior como Ray Charles.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

PARADOXO

Não é estranho que Fidel Castro critique a produção de álcool combustível, alegando que seria prejudicada a produção de alimentos? Afinal, a maior parte das terras agricultáveis em Cuba são destinadas a plantações de fumo e de cana-de-açúcar (para a produção de açúcar mesmo, e não álcool).

Será que a dieta dos cubanos consiste em ingerir açúcar e mascar tabaco?

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

OH, QUE SAUDADES DA MINHA DITADURA QUERIDA...

Já se passaram quase 20 anos desde a transição para a democracia política, e mais do que isso desde o fim da censura à livre manifestação do pensamento. Todavia, parece que alguns ainda sentem saudade daqueles tempos.

Os oficiais e praças da Polícia Militar do Rio de Janeiro, por exemplo, manifestaram apoio integral à ação judicial impetrada por oficiais do Bope contra a exibição do filme nos cinemas brasileiros. Ou seja, querem evitar que a população veja qualquer resquício de realidade que o filme por ventura possa trazer. Já dizia um ministro: "o que é ruim a gente esconde".

Aliás, a própria Corregedoria da PM do RJ não gostou muito desse filme. Tanto o diretor deste, José Padilha, e o ex-capitão da Polícia Militar, Rodrigo Pimentel - um dos autores do livro “Elite da Tropa”, que inspirou esse filme - foram intimados a prestar depoimento na Corregedoria da PM. Caso se recusem a comparecer na data determinada, eles podem ser conduzidos por força policial.

Para piorar, o filme ainda desagradou muitos setores da sociologia barata brasileira. Estes, se pudessem, também o proibiram. Afinal, onde já se viu discordar da ladainha de que o bandido é um fruto de um "sistema perverso" (o capitalismo), que se vê obrigado a seguir uma vida de crimes? E não repetir que a polícia é um mecanismo repressivo, destinado a garantir o controle social de um Estado ilegítimo, que só quer proteger a "elite" (não seria oligarquia?)? Claro que existe muita pesquisa social séria no Brasil. O problema é que a sociologia que domina o ensino médio, os cursos de graduação e a mídia é essa acima.

Mas não farei uma análise sociológica do filme, até porque já existem muitos enganadores fazendo isso neste momento. Sem falar que é muito sacal fazer análise sociológica de peças de entretenimento. É politicamente correto demais.

O problema é que, em nome do politicamente correto, querem proibir o filme. Deve ser porque a "intelectualidade" não gostou do que viu. E também porque alguns setores do Estado não gostam que a população saiba de seus defeitos. Enfim, o coitado do diretor tomou pau de todos os lados.

Sorte nossa que até agora não apareceu nenhum juiz maluco admitindo a retirada do filme das salas de cinema. A repercussão negativa ao "Caso Cicarelli" deve ter escondido a saudade dos tempos em que bastavam alguns minutos para censurar qualquer opinião.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

...

Orra, o Hellacopters acabou...

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

A FOTOSSÍNTESE

O dia amanhecera ensolarado naquele final de outubro. Da janela da sala de aula, no andar térreo, era possível avistar o último resquício de mata nativa nas redondezas desse novo prédio do Centro de Ciências Jurídicas. Um matagal que, não obstante a sua insignificância em área, era um foco de resistência contra o “progresso”, sendo saudosamente conhecido pelos acadêmicos, em razão da sua denominação, dada em homenagem a um dos docentes da casa.

A primeira aula do dia já rumava para o seu término, estando o professor ministrando as suas considerações finais, enquanto alguns dos colegas esperavam para expor suas dúvidas em relação à matéria lecionada. Aguardávamos, ansiosos, pelo intervalo, um breve momento de descanso que, embora exíguo, nos era extremamente salutar. E, naquele dia, o seria mais ainda, pois o sol, desaparecido em razão dos últimos dias chuvosos, aparecera radiante, trazendo consigo aquele clima típico do verão que se aproximava.

Como adorávamos o verão! Estação do calor, do sol, das tempestades refrescantes do final de tarde. Claro, o clima úmido e quente transformava as classes em verdadeiras fornalhas, tamanho o grau de insalubridade. Porém, ainda assim trazia os seus brindezinhos: as pessoas acordavam mais ativas, alegres e, algumas vezes, sensuais. Dias como aqueles eram perfeitos para rumarmos em direção ao gramado do prédio vizinho, permeado de bancos e arbustos, onde nos poderíamos estabelecer no ponto com a melhor visão de todo o local, para então darmos início ao que poderia ser cunhado “nosso ritual”.

Sim, esse ritual que cumpríamos religiosamente desde os primeiros dias de faculdade, sempre que o clima era propício para tanto. Começou quando ainda éramos calouros, anônimos uns aos outros, mas que tinham em comum o vigor decorrente dos hormônios que guiavam qualquer ser humano na flor da idade.

Chamávamos-lo de “fotossíntese”, nome deveras estranho para os meios jurídicos, porém compreensível para uma leva de recém-vestibulandos, ainda bitolados pelos conteúdos do ensino médio. E o era assim denominado porque, basicamente, ficávamos largados ao sol, refestelando-nos como lagartos preguiçosos, recompondo nossas energias enquanto absorvíamos todo aquele calor. A analogia com as plantas era – mais do que pertinente – óbvia.

Como passatempo – embora não nos agradasse que esse tempo passasse muito depressa – conversávamos sobre as mais diversas futilidades: algum assunto lido no jornal do dia anterior, na revista semanal, ou visto nos telejornais das primeiras horas da manhã. Apresentavam-se as mais variadas notícias, todas, naquela hora, de igual importância, fossem elas mexericos de política, religião, futebol, ou algum outro tema de relevante interesse para a segurança nacional. Enfim, o que melhor aprouvesse ao humor dos companheiros de conversa.

Qualquer que fosse o tema escolhido, as discussões eram acaloradas, alternando-se as opiniões nos debates. Fervilhava-nos a paixão pelos discursos, como senadores a decidir o futuro da nação, ou como futuros juristas a fazer uma explanação oral. Não havia problema insolúvel; dali, saíam respostas para todas as mazelas que afligem o mundo! Sentíamo-nos como grandes filósofos do pensamento ocidental, oráculos de sabedoria dos meios acadêmicos.

Porém, o assunto principal desse plenário não poderia ser outro: os dotes físicos das respeitáveis senhoritas que por ali passavam. Não, caros senhores, não se tratava de perversão dos ilustres jovens. À primeira vista, pode parecer que agíamos de forma deveras machista, como meros fornicadores, ávidos por um belo par de pernas femininas.

Todavia, naquela hora não alimentávamos a lascívia. Nossa prática limitava-se tão somente a uma espécie de idolatria pagã, cujas deusas não ficavam confinadas a um Monte Olimpo ou a um Valhala. Que imensa vantagem tínhamos sobre os guerreiros da Antigüidade! Para eles, aproveitar as benesses dessas beldades era um privilégio restrito, concedido somente após uma morte gloriosa, ocorrida no campo de batalha. Para nós, reles e pacatos mortais, elas estavam todas ali, presentes de corpo e alma, quiçá tangíveis, para deleite de nossos sôfregos olhos.

Nutríamos nada mais do que uma adoração platônica pelas formas angelicais que, diante de nós, desfilavam, garbosas, como se a sua existência se limitasse a atormentar as almas masculinas, abobalhadas com toda aquela voluptuosidade. Torturavam-nos, em movimentos que pareciam não ter fim, e deixavam-nos maravilhados diante de toda aquela generosidade concedida pela Mãe Natureza, ou, quem sabe, por repetidas dietas alimentares, combinadas com horas diárias de exercícios físicos. Não nos importava a causa de tal fenômeno estético, mas apenas suas agradáveis conseqüências, acentuadas pelas roupas sobremaneira exíguas, compatíveis com o dia quente que fizera.

De vez em quando, algum dos colegas se exaltava, e murmurava algum gracejo nada requintado, daqueles que, em sendo ouvido pela destinatária, seria prontamente correspondido com palavras de baixo calão, incompatíveis com moças de tão fino trato. Felizmente, nunca houve tal acontecimento para ensejar tamanha conseqüência, o que certamente teria comprometido a magia do momento.

Regozijados com aqueles poucos minutos de visões magníficas, trilhávamos, enfim, o caminho de regresso à sala de aula, para dar seguimento ao aprendizado acadêmico. Voltávamos embriagados com toda aquela delicadeza e formosura, e com a certeza de que, no dia seguinte, se ensolarado, poderíamos fazer tudo outra vez.

(Crônica publicada originalmente em livro em homenagem aos 70 anos da Faculdade de Direito da UFSC. Meio exagerada em alguns momentos – para não dizer piegas e cheia de clichês, em outros – mas para a época valeu.)

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

MEA CULPA

Creio que devo alguma explicação sobre os textos que publiquei/reproduzi recentemente, sobre o fechamento do Senado. Pareceu até que eu defendia o fechamento dessa casa legislativa.

No entanto, é justamente o contrário. Na verdade, quis mostrar que muitos setores da imprensa (e que alguns chamam de "mídia golpista") faziam pressão para extirparmos do país um câncer institucional. Todavia, erraram ao diagnosticar a doença: o câncer estava em alguns senadores, e não em todo o Senado.

A intenção, naqueles textos, era a de alertá-los para os perigos que os momentos de grande comoção nacional representam. Naquela época, a opinião pública, facilmente manipulável, tendia a apoiar qualquer "salvador da pátria" que se dispusesse a tomar o poder absoluto para "acabar com a corrupção". Qualquer semelhante à direita com o golpe de 1964, e à esquerda com Hugo Chávez, não é mera coincidência.

Vejam, nos meios de comunicação, que Rafael Correa - presidente equatoriano - pretende fechar o Legislativo daquele país, argumentando que é uma instituição corrupta. O pior é que grande parte da população equatoriana apóia a medida.

Fechar instituições públicas não é solução para resolver problema algum, ainda mais o da corrupção. Afinal, o poder da instituição fechada terá de deslocar-se para alguém, no caso, para um déspota, esclarecido... ou não. E, quando todo o poder estiver nas mãos desse déspota, será fácil corrompê-lo. A História já comprovou isso muitas vezes.

Infelizmente, não consegui disponibilizar um texto do Elio Gaspari alertando para esses perigos. Seus argumentos para a manutenção do Senado eram muito mais bem redigidos que os meus. Mas fica o alerta: é mais difícil, porém mais seguro para a democracia, moralizar o Senado, do que fechá-lo. Afinal, depois deste, quem virá? A Câmara? O Supremo Tribunal Federal? O voto direto e secreto?

sábado, 22 de setembro de 2007

PEDALANDO E ANDANDO

Hoje é o Dia Mundial Sem Carro. Ponha um pouco de consciência na cabeça e deixe o seu na garagem.

Aproveite e faça isso mais vezes durante o ano.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

FALTA CACCIOLA

Quer dizer que é difícil o Salvatore Cacciola ser entregue à Justiça brasileira porque o Brasil não tem um tratado de extradição com Mônaco? Que não tenha com países em estado de beligerância, vá lá, mas com países que sejam mais ou menos organizados é inadmissível.

E o Brasil ainda quer se inserir na ordem internacional? Ainda quer que o mundo não o veja como um lugar para onde a bandidagem pode fugir sem medo de ser enviada de volta ao país que a condenou?

O Itamaraty faz o quê, então? Rasgação de seda com a Venezuela?

Engraçado é que com Cuba não precisou nem de tratado...

domingo, 16 de setembro de 2007

SENADO PARA QUÊ?

Eis uma boa hora para repensar uma casa que, além de inútil, pode ser malsã.

(Ensaio de Roberto Pompeu de Toledo - uma das secções ainda sérias na Veja - publicado esta semana)

Muitos países vivem sem Senado e não são menos felizes, ou mais infelizes, por causa disso. Israel é um bom exemplo. Portugal é outro. São países que adotam o chamado sistema "unicameral", o do Poder Legislativo sediado em uma única casa, a Câmara (ou Assembléia) dos Deputados. Há, na teoria, argumentos pró e contra o unicameralismo ou o bicameralismo. No Brasil, a velhos argumentos contra a existência do Senado, somou-se, na semana passada, um novo. Os velhos argumentos são:

• O Senado torna o Poder Legislativo repetitivo e lento. O processo de uma lei passar pela Câmara, depois ir para o Senado, depois voltar para a Câmara se houver modificação no Senado, e depois até talvez voltar para o Senado se houver modificação na Câmara, produz cansaço e exasperação. No meio do caminho, perde-se o interesse e arrisca-se comprometer a oportunidade da lei. Quando se tem em conta que, em cada casa, o projeto passa por diferentes comissões especializadas, o cansaço e a exasperação crescem. As comissões existem para peneirar as propostas, examinando-as sob diversos pontos de vista. Com isso, instala-se um processo de revisão que torna redundante o "poder revisor" que se atribui ao Senado.

• A existência de duas casas legislativas resulta em concorrência de uma contra a outra. Muitos são os exemplos de rivalidade nociva entre Câmara e Senado. Fiquemos em um, recente: a instalação das chamadas CPIs "do apagão aéreo". Como não houve acordo para criar uma comissão mista (as vaidades são muitas, e a tela da televisão é pequena), criaram-se duas, uma no Senado e outra na Câmara. Resultado: duplicação de depoimentos, conclusões discordantes, desperdício de energia e perda de credibilidade.

• A especificidade do Senado dilui-se no sistema brasileiro. A especificidade do Senado é representar os estados, enquanto a Câmara representa o povo. No Senado, os estados são representados por igual, à razão de três senadores cada um. Na Câmara, um estado será tão mais representado quanto maior for sua população. Isso na teoria. Ocorre que, pela legislação brasileira, há um número mínimo (oito) e um máximo (setenta) de deputados por estado. Isso faz com que a população de estados pequenos seja super-representada e a dos grandes sub-representada. Roraima, com 400.000 habitantes e oito deputados, tem um deputado para cada 50.000 habitantes, enquanto São Paulo, com 40 milhões de habitantes e setenta deputados, tem um para cada 570.000. A população de São Paulo vale, na Câmara dos Deputados, onze vezes menos do que a de Roraima. Tal sistema existe, segundo seus formuladores, para proteger os estados menores e tornar mais equitativa, na Câmara, a presença das diversas unidades federativas. Ora, não é o Senado a casa da representação equitativa dos estados? Se a Câmara usurpou esse papel, para que o Senado?

• O Senado é em larga parte biônico. "Biônico" era o apelido, na ditadura, do senador nomeado, invenção do regime para não perder o controle da casa. Eram senadores sem voto. Pois mais de vinte anos depois da redemocratização continuam a existir os senadores biônicos, agora na pessoa do "suplente", aquele de quem ninguém ouve falar na campanha eleitoral e, quando menos se espera, lá está, ocupando uma cadeira para a qual se votou em outro. Um caso recente é o do senador Euclydes Mello, do PTB de Alagoas. O eleito Fernando Collor saiu para dar uma volta e assumiu o primo suplente. Outro caso recente é o de Gim Argello (PTB-DF), que despontou para a vaga de Joaquim Roriz com um rico elenco de suspeitas sobre sua cabeça, mas que teve a posse assegurada pelo voto amigo do presidente Renan Calheiros. A presença dos biônicos deslegitimiza a casa.

• O Senado não cumpre deveres que lhe são específicos. Cabe-lhe com exclusividade aprovar as indicações de ministros do Supremo Tribunal, embaixadores e membros das agências reguladoras. É uma tarefa nobre e útil, que mais nobre e útil seria se fosse exercida com cuidado e competência. Não é o caso. Na aprovação da notória diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o Senado comportou-se com a habitual leviandade, antes como carimbador das propostas do Executivo do que como poder verificador e equilibrador das decisões do outro.

A esses argumentos acrescentou-se, na semana passada, evidenciado em toda sua extensão, o mal do "clubismo". Por ser uma casa pequena, onde todos se conhecem bem, o Senado é ambiente propício às cumplicidades, à troca de favores e à venda de lealdades. Não foi outra a causa da absolvição de Renan Calheiros. O clube se fechou em torno dele (ou, pelo menos, a maioria do clube), num processo de escora mútua: eu protejo você hoje e você me protege amanhã, eu finjo que não vejo o que você fez e você finge que não vê o que eu faço, e vamos todos juntos, que o barco soçobra e se um cair ao mar corremos todos o risco de lhe fazer companhia. O clube é uma instituição malsã porque, em vez de ao estado e à nação, tende a servir a si mesmo, a suas trapaças e a suas malfeitorias.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

SEM NADA FEDERAL

Não há como deixar passar o dia de hoje sem cair no lugar-comum de toda a imprensa: a (não)cassação do Senador Renan Calheiros.

Como bem disse Jânio de Freitas hoje na Folha de São Paulo, Renan é o cara certo no lugar certo. Afinal, se as relações do Governo com o Parlamento ocorrem na base dos "mensalões" e da liberação de emendas orçamentárias, nada melhor do que um pacato bovinocultor alagoano para intermediá-las.

Sua absolvição é apenas um reflexo do desmanche a que as instituições do Estado - em todos os níveis - se submeteram desde a Independência.

Tínhamos uma Justiça. Faz tempo que não podemos contar com ela, como já afirmei aqui. Dizem que já tivemos um Parlamento. Nesse caso, não sei se é verdade, pois deve ter sido bem antes de eu nascer.

Há tempos, houve Estado e Governo. O Estado minguou, submetendo-se a um governo que se desvirtuou para um Leviatã que suga quase a metade dos nossos recursos, sem oferecer nada em troca.

Do Estado, o que temos, hoje, é nada. Mesmo sugando quase a metade dos recursos, o que deveria oferecer de volta não aparece. IPVA para custear as estradas? Some-se a ele os pedágios. CPMF para a saúde? Que saúde? Ou morremos na fila do SUS, ou entregamos de 3 a 5% de nossa renda para as Unimeds da vida. CIDE para conservar e ampliar a infra-estrutura de transporte? Então por que pagamos (altas) taxas de embarque nas passagens aéreas? Para financiar os aeroshoppings da Infraero?

Está aberta a temporada de salvadores da pátria. Com a total putrefação das instituições, agora só nos resta que um Hugo Chávez genérico apresente-se para fechar o Congresso Nacional e nos imponha um novo caudilhismo.

Aposto que, no dia de hoje, ele teria o apoio incondicional de grande parte da população. Olhem os jornais: já existem colunistas defendendo a extinção do Senado.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA CULTURAL E RECREATIVA DE SANTA CATARINA

As Assembleias Legislativas estaduais, por força da Constituição de 1988, têm competência residual. Isso quer dizer que elas podem legislar sobre tudo o que não for competência da União Federal ou dos municípios.

Na prática, elas não podem legislar sobre quase nada, pois o rol de competências legislativas da União e dos municípios é bastante extenso. Assim, os deputados estaduais passam os dias a discursar e a aprovar documentos eufemistamente podemos classificar como pitorescos.

Vejamos alguns exemplos de leis aprovadas pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina nos últimos dois meses:

  • Lei 14.078, de 6/8/2007: cria o Selo Empresa Cidadã de Santa Catarina, a ser concedido as empresas privadas que instituírem e comprovarem melhorias na qualidade de vida e de trabalho em seu balanço social.
  • Lei 14.079, de 6/8/2007: denomina Padre Huberto Waterkemper o ginásio de esportes da Escola de Educação Básica Gama Rosa, no Município de São Pedro de Alcântara.
  • Lei 14.073, de 31/7/2007: concede título de Cidadão Catarinense ao senhor Marco Antônio Tebaldi.
  • Lei 14.074, de 31/7/2007: institui o Dia do Massoterapeuta no Estado de Santa Catarina.
  • Lei 14.060, de 23/7/2007: reconhece o Município de União do Oeste como capital catarinense do boi no rolete
  • Lei 14.044, de 9/7/2007: declara de utilidade pública a Associação Josefense de Amor Exigente, de São José.

Títulos honoríficos a cidadãos e a municípios ("capital catarinense do boi no rolete" foi de doer), denominação de ginásios escolares (o diretor da escola não poderia fazer isso?), declarações de utilidade pública de entidades obscuras (que diabos é "amor exigente"?)... Por tudo isso, podemos ver o quanto nossos representantes andam atarefados. Mas não os culpo. Afinal, isso é só o que lhes é permitido fazer.

Por essa razão questiono a atual configuração federativa no Brasil. Muitas das atribuições que poderiam ser estaduais ficaram com a União ou foram transferidas diretamente aos municípios.

Se é para ser assim, para que servem os Estados?

domingo, 2 de setembro de 2007

SE A MODA PEGA...

Prefeito russo proíbe "desculpas esfarrapadas" de funcionários


do Terra


O prefeito da cidade de Megion, no oeste da Rússia, divulgou uma lista de desculpas que ele diz que não vai tolerar entre os funcionários públicos municipais.

A assessoria de imprensa da Prefeitura afirmou que a lista contém 27 frases proibidas. Entre elas estão "Não sei" e "Estou em horário de almoço".

O prefeito, Alexander Kuzmin, explicou sua decisão dizendo que os funcionários municipais deveriam ajudar a melhorar a vida dos cidadãos, resolvendo seus problemas e não inventando desculpas.

Ele também afirmou que estava cansado de ouvir os funcionários dizerem que era impossível resolver os problemas, em vez de oferecer soluções práticas.

Kuzmin alertou ainda, em um pronunciamento, que "o uso das expressões por funcionários públicos em conversas com o chefe da cidade vai fazer apressar suas demissões".

Veja aqui.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

GENTE ESQUISITA

Alguém pode me explicar por que, entre as 17 reivindicações dos estudantes que ocupam a Reitoria da UFSC, constam as seguintes:

7. Opção vegetariana no RU.
13. Posicionamento contrário à entrada da PM no Campus Universitário.
16. Arquivamento dos processos administrativos e criminais relacionados aos estudantes que participaram da greve de 2005.

As outras 14 reivindicações são mais do que justas. No entanto, a ocupação de um prédio público faz os argumentos perderem a força.

Duvida? Clique aqui.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

O BANCOS PODEM, A RECEITA NÃO?

Sobre a matéria abaixo, que critica a inclusão, no SERASA, dos devedores de impostos, tenho a apresentar uma discordância: considero ainda mais injusto os bancos incluírem seus devedores em tal cadastro, pois estes o fazem de forma arbitrária. A Receita Federal, pelo menos, só o fará após um processo administrativo tributário, no qual há, pelo menos, alguma chance de defesa do contribuinte. Ademais, se determinado contribuinte for inscrito indevidamente como devedor, este terá direito a pedir indenização por dano moral.

Não devemos lutar contra o aperto da fiscalização tributária. Isso é bom, pois combate a sonegação. Aliás, devemos lutar para que haja uma fiscalização ainda mais rígida, que incida também sobre os grandes sonegadores. Pois, se estes pagarem seus tributos, teremos um argumento para pressionar o Estado a reduzir a carga tributária. Não se esqueçam que o alto índice de sonegação costuma ser utilizado como justificativa para abocanhar 40% do PIB. Sem falar que alguns desses grandes sonegadores têm grande poder político e, se sentissem o peso da tributação, pressionariam para reduzi-la.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

GOVERNO FEDERAL INCLUIRÁ DEVEDORES DE IMPOSTOS NA SERASA

da Folha Online


A decisão do governo federal de incluir os devedores de impostos na Serasa pode representar "mais uma ameaça para o cidadão", informa nesta terça-feira a colunista Maria Inês Dolci, no texto "Brasil, o país de todos os impostos", na Folha.

Segundo a colunista, "a dívida tributária nem sempre decorre de má-fé do devedor". "Depois das trapalhadas que marcaram o início do Super Simples (?), a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional deveria ter mais cautela, antes de decidir criar um novo índex de devedores", diz o texto.

"Freqüentemente, pessoas físicas e microempresários são cobrados por impostos já pagos (...) Quem garante que esses erros não se repetirão, e que não ocasionarão a inclusão indevida no Serasa?"

O texto destaca ainda que os governos deveriam ser obrigados a expor --na internet, na mídia e através outras fontes de divulgação pública-- "a que cada centavo arrecadado é destinado" e exemplifica com a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). "Pacientes sem atendimento nos hospitais públicos brasileiros devem se perguntar onde foram parar os recursos dessa contribuição que, de provisória, nada tem."

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

"EI, REITOR, VAI TOMAR NO CU"

A frase acima estava entre as palavras de ordem proferidas por alguns estudantes que conduziam uma manifestação contra o sucateamento da Universidade Federal de Santa Catarina. Tal manifestação tinha o propósito de exigir melhores condições de estudo na universidade, após anos de descaso do governo federal, responsável por ela.

Hoje, pela manhã, presenciei uma assembléia estudantil, com a presença do tal reitor mandado às favas alguns dias antes. Agora, os alunos mandavam-no às favas diretamente. Bem, ao menos tiveram a hombridade de, desta vez, falar na cara. Só não entendi porque não o deixavam argumentar em resposta às críticas que faziam.

A pauta de reivindicações dos alunos era simples: contratação de professores para suprir as disciplinas que não estavam sendo ministradas. Até aí tudo bem. Pena que o "comando de greve" estudantil distribuiu panfletos à platéia, no qual o grande destaque não era essa reivindicação, mas sim dois temas de relevante interesse para a comunidade universitária: a estatização da Companhia Vale do Rio Doce e uma moção de apoio à Venezuela.

Um cálculo matemático simples demonstraria que, se os professores cumprissem a carga horária que justificasse sua remuneração, não seriam tantas as disciplinas que ficariam sem cobertura. Todavia, parece que as universidades brasileiras preocupam-se demais com suas pós-graduações (onde se faz a pesquisa), esquecendo-se de formar os profissionais que ajudariam no desenvolvimento do país. Pior: as pesquisas resultantes são pouco produtivas, haja vista o baixo número de patentes geradas e o quase esquecimento dos brasileiros em citações internacionais.

No entanto, esses alunos parecem esquecer de analisar todos os lados de uma discussão. Deixam de aplicar, assim, um dos princípios do ensino superior: o raciocínio analítico. Dessa forma, acabam por tornar-se massa de manobra dos interesses corporativos de seus professores. Pior: as entidades representativas dos estudantes tornam-se braços de partidos políticos nanicos, no caso, da extrema esquerda, e pautam suas reivindicações pela crítica ao capitalismo e pela instauração de um regime socialista nos moldes cubanos.

Queria ver alguns desses manifestantes depois, almoçando no McDonald's.

domingo, 19 de agosto de 2007

MAS QUE DIABOS...

Quer dizer que o fundador desse "Cansei" é o advogado do casal Hernandes (da Igreja Renascer) no Brasil?

E quer dizer que, quando seus clientes foram detidos nos EUA, acusados de entrarem naquele país com dinheiro não declarado - escondido numa Bíblia - ele, na qualidade de advogado, foi à imprensa declarar que tudo não passava de um "equívoco" de seus clientes, que "esqueceram" de declarar dezenas de milhares de dólares?

E ainda querem que eu leve a sério esse "TFP Reloaded", com vício de origem?

Ah, cansei do "Cansei"!

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

CENTRO DE INTEGRAÇÃO EMPRESA-ESCRAVOS

Ingressar numa universidade de ponta, num curso tradicional, parece ser o sonho de toda pessoa (e principalmente dos pais dela), que assim vincula o estudo nesses centros de excelência à garantia de emprego certo após a formatura. Ao menos foi isso que pensei há alguns anos, quando, por sorte, consegui ser aprovado no vestibular.

Lêdo engano! O mercado de trabalho está saturado de jovens recém-graduados que, não obstante a formação altamente qualificada, engrossam as filas de desempregados, ou, ainda, buscam trabalhos abaixo das suas qualificações, com o intuito de garantir a sua sobrevivência. Esse é o grande dilema do jovem trabalhador brasileiro: durante a faculdade ou ensino médio, é comum arranjar um estágio, "para aprender na prática o conteúdo", ou para ter dinheiro mesmo. Todavia, ao formar-se, engrossa a fila de desempregados qualificados, uma vez que não tem "experiência comprovada", requisito essencial para o mercado de trabalho, e as ocupações para inexperientes foram tomadas pelos estagiários, de qualificação semelhante, porém desprovidos do estorvo da proteção dos direitos trabgalhistas. E isso para não mencionar a grande maioria de pobres coitados que sequer chega ao nível de estagiário, tendo de abandonar os estudos ainda no primeiro grau, obtendo sua sobrevivência em sub-empregos.

A culpa disso tudo? Um sistema trabalhista perverso que, em detrimento do bem-estar social dos que vendem seu serviço, busca apenas arrecadar recursos para um Estado degenerado, por meio de vultosos encargos sociais que desestimulam a contratação empregatícia. Como se não fosse o bastante, combina-se a tanto um emaranhado de sindicatos enfraquecidos, atrelados ao Estado, que, em vez de lutar pelo bem da classe que representam, tornam-se estruturas burocráticas, apáticas, cujo objetivo velado passa a ser o de formar uma elite sedenta de poder (e cargos), mesmo que para isso tenha de apoiar incondicionalmente velhas oligarquias.

Por isso que, em anos recentes, as empresas descobriram esse filão tão promissor na gestão de recursos humanos. Quem não gostaria de obter trabalhadores eficientes, pagando um salário baixo (chamado de bolsa-auxílio), e sem conseqüências indesejáveis, como direitos trabalhistas básicos (férias, por exemplo), encargos previdenciários, podendo ser demitidos sem qualquer cerimônia (e pagamento de rescisão), mediante uma simples revogação de contrato? A redução de custos com recursos humanos é fantástica! Pelo preço de um empregado formal, é possível contratar até vinte (!!) estagiários, que obedecem sem reclamar, pois o mercado é concorrido, e existem milhares de outros universitários à espera de uma vaga para ocupar.

Para ajudar as empresas na obtenção desses pequenos servos, surgiram os Centros de Integração, organizações não-governamentais que constituem bancos de dados com cadastros de estudantes, e bancos de vagas oferecidas pelas empresas contratadas. Para cada estagiário aliciado, a empresa contratante paga uma módica quantia mensal à organização, a título de remuneração pelo serviço prestado; livre de tributos, pois o Estado não pode exigir dinheiro de uma instituição de "interesse público", por mais lucrativa que seja. Incrível: no passado, que traficante de escravos teria a idéia de cobrar dos senhores de engenhos uma taxa periódica, em razão do negro que lhe fôra vendido? Se vissem como se lucra atualmente com a escravidão, teriam mandado a Princesa Isabel às favas, bombardeariam os navios ingleses que patrulhavam os oceanos, e retornariam à sua atividade lucrativa, recheada de novos conceitos.

Talvez, num futuro (nem tão) distante, a figura do estagiário seja lembrada como, hoje em dia, lembramo-nos dos servos na Europa Ocidental durante a Idade Média ou na Rússia do século XIX. Afinal, as relações de exploração não costumam ser lembradas como tal no tempo em que ocorrem, mas tão-somente através da reflexão das gerações posteriores. (originalmente publicado em 02/12/2003)

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

NÃO DÁ PARA LEVAR A SÉRIO

Amapá e Roraima, quando territórios federais, tinham direito a apenas um deputado cada no Congresso Nacional. Nenhum senador, pois não eram Estados. Seus processos judiciais, em grau de recurso, não iam para as suas capitais, mas sim para Brasília, no TJDFT (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios).

Em 1988, a Constituição alçou-os à categoria de Estados federados, conferindo-lhes toda a estrutura governamental a que tinham direito: Tribunal de Justiça, Ministério Público, 8 deputados federais, 3 senadores, Secretarias de Estado, etc. Assim, boa parte da população economicamente ativa teve de ser empregada na manutenção dos cargos criados. Não é preciso dizer que a maioria das famílias depende, hoje em dia, de algum salário estatal para viver.

19 anos depois, ainda não reúnem as condições mínimas para desmembrarem-se. O Amapá, vejam, tem 16 municípios e 12 comarcas, sendo 11 delas de vara única. 80% da sua população está na capital ou cercanias. Roraima, por sua vez, tem 15 municípios (apenas 1 deles com mais de 25 mil habitantes) e 7 - isso mesmo, sete - comarcas. Sua população é menor do que a de Florianópolis.

Só se salvam suas capitais, nas quais concentra-se grande parte da população. Nelas também ficam centralizados boa parte dos serviços públicos e todos os serviços privados. E assim o Brasil inaugura um novo conceito de federalismo: o de cidade-estado federada. Os gregos antigos ficariam orgulhosos! Será que eles chegaram a pensar em dar a Iráklion (perdida no Mar Egeu) a mesma representatividade de Esparta ou Atenas?

Não bastassem esses territórios travestidos de Estados, tramitam no Congresso Nacional mais seis projetos de desmembramento, alguns deles pitorescos, como o do Maranhão do Sul, destinado a perpetuar o poder da família Sarney. Roberto Pompeu de Toledo, na Veja desta semana, descreveu-o muito bem. Não sou um fã da Veja - que ultimamente tem proferido um festival de besteiras - mas ele é uma notável exceção.

É por isso que são produzidas aberrações politicas como o Senador Gilvam Borges (para saber mais sobre ele, acesse o Cidadania Online, disponível ao lado).

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

A NATUREZA É JUSTA

Dia desses uma amiga minha surpreendeu-me ao informar o nome de um dos seus "pontinhos" recentes que, por sinal, também era meu conhecido. Fiquei abismado pelo fato de uma guria "mui rica" (tá bom, nem tanto assim, senão tem gente que depois vai vir se achando) como ela ter se entregado a um, digamos, elemento análogo a um personagem dos desenhos da Warner Brothers. Ciente da minha perplexidade, a menina deixou a entender a seguinte justificativa: o "tal" beijava muito bem.

Após essa formidável explicação, elaborei a teoria que encabeça este texto: nós, seres humanos, somos convencidos da nossa "vitória" contra a seleção natural, uma vez que até o pior dos retardados consegue transmitir seus genes a gerações futuras (vide George Bush e seu rebento); todavia, ainda estamos sob o jugo da Mãe Natureza. Esta, sábia (ou quase, pois produziu uma bizarrice como o ornitorrinco e nós, da espécie humana, que a destruímos), não permite o surgimento de seres humanos "perfeitos", por mais que nos dediquemos a técnicas de eugenia. "Nature finds its way", como Jeff Goldblum disse em Jurassic Park.

Por acaso alguém já teve a oportunidade de conquistar aquela menina tão desejada, sonho de consumo da turma inteira, e, na hora H, simplesmente não conseguir fazer nada decente porque ela é uma verdadeira analfabeta no assunto? Ou, ainda, quando esteve mais na seca que o Deserto do Atacama, e resolveu apelar pra aquela gordinha que nem abutre com fome encara, e percebeu que, de olhos fechados (pra não tomar susto), ela era muito melhor que a loira gostosa? Pois é, caro amigo, nesse dia, você conheceu a sabedoria da Natureza. Esta, afeita à variabilidade, não concede todos os dons a um mesmo indivíduo, pois, em caso contrário, criaria duas castas; uma, de seres "perfeitos", e, por conseguinte, chatos, e outra, composta pelo lixo genético restante. E por que essa situação deve ser evitada? Simples, oras! Se as circuntâncias mudarem, de forma a se tornarem desfavoráveis aos "perfeitos". Adeus, espécie infeliz.

Por mais malas que nós, seres humanos, sejamos, a Natureza ainda não nos descartou de seu plano. Dessa forma, ela ainda quer garantir a nossa variabilidade genética. E é justamente por isso que é extremamente raro encontrarmos uma loira escultural que seja uma máquina do amor, pois ela seria justamente o alvo preferido de todos os homens, deixando milhares de feinhas e seus respectivos genes a ver navios. Portanto, cada ser humano tem algumas qualidades que lhe são únicas e incomparáveis, e, para compensar, alguns defeitos que muitos não suportariam, mas que, todavia, alguns os aceitam tendo em vista as qualidades supratcitadas. Assim se procede o fabuloso jogo da sedução e, como conseqüência, reprodução.

Isso me deixa feliz por dois motivos. O primeiro, é que por mais que os geneticistas insistam em pesquisar técnicas fascistas de eugenia, para criar "super homens e mulheres", isso não ocorre, pois a natureza de alguma forma impede que todos os "bons" genes sejam destinados a apenas uma pessoa. O segundo é que eu, um ser relegado a segundo plano na distribuição eugênica, tenho condições de manter minhas esperanças em perpetuar minha características (para desespero da Humanidade). (originalmente publicado em 18/09/2003)

terça-feira, 7 de agosto de 2007

FAZER JUSTIÇA?

Recentemente, foi determinado o afastamento do Ministro Paulo Medina, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), sob suspeita de envolvimento em esquema de venda de sentenças e negociação com a dita máfia dos bingos e caça-níqueis. Novamente, veio à tona algo há muito discutido veladamente: a corrupção no Judiciário brasileiro.

Não é de hoje que aparecem indícios de que nossos magistrados não são aquelas ilhas de honestidade em meio ao caos da Administração Pública. Sem muito esforço, lembremo-nos do juiz Nicolau dos Santos Neto. No entanto, a discussão sobre isso sempre foi abafada, talvez por medo de gerar descrédito em relação a uma das poucas instituições que ainda sobrevivem à crise de legitimidade.

O Executivo, como sempre, envolve-se em licitações fraudulentas e suspeitas de favorecimento a determinados apadrinhados. O Congresso Nacional, que deveria fiscalizá-lo, vive às voltas com sanguessugas, bois e pizzas em geral. A imprensa foi comprada por generosos contratos de publicidade oficial. A academia, em vez de pesquisar, ensinar e gerar desenvolvimento, ocupa-se em abocanhar nacos generosos dos fundos oficiais de fomento.

Restaram os juízes, em tese garantidores do respeito à lei em um país tão acostumado ao Poder Moderador. Na verdade, ainda é possível crer que o envolvimento de magistrados em máfias criminosas sejam fatos isolados, pois indubitavelmente a esmagadora maioria desses profissionais exerce suas funções com probidade. Todavia, raciocínio semelhante não ocorre quando se trata da isenção em suas decisões.

A Justiça Federal, por exemplo. É rápida em proferir decisões. Também costuma inovar tecnologicamente, implantando, por exemplo, processos eletrônicos. Por outro lado, seus juízes estão ideologicamente alinhados com o governante de plantão. Não é raro verificarmos que, em muitos casos, as decisões prescidem da solução do problema, o que na maioria das vezes salva o governo de pagar indenizações notoriamente devidas. Já faz parte das políticas governamentais tungar a população, e contar com a boa vontade dos juízes em decidir contra quem foi procurar seus direitos.

Parte-se do pressuposto que, na dúvida, o Estado está certo. Isso até pode ser válido na Europa Ocidental, de onde vieram essas teorias. Mas não pode valer para qualquer país da América Latina, e menos ainda para o Brasil. Quando se enfrentou, em tempos recentes, um histórico de autoritarismo - caso do Brasil - é inadmissível uma Justiça que tenha por pressuposto o postulado de que, em princípio, o Estado tem razão. Afinal, por essas bandas, o Estado erra, e muito. Ou melhor, traveste de erro uma política que dolosamente prejudica o cidadão, em prol de um Estado que não oferece nenhum dos serviços para o qual surgiu.

Nesse ritmo, não vai demorar para termos o descrédito geral com mais uma instituição. Então abriremos cada vez mais espaço para emergir um "salvador da pátria", que ganhará poderes especiais, extinguirá "provisoriamente" os freios e contrapesos que "atrapalham" suas ações, enquadrará a opinião pública e perpetuar-se-á no poder. Pior, quando morrer, nos ressentiremos da sua perda, e emprestaremos seu nome a logradouros públicos Brasil afora.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

LIVROS QUE EU GOSTARIA DE VER

Sei que este é um clichê, lançado pela Mad, que já está meio batido. Mas eu sempre quis fazer uma brincadeira dessas, principalmente com "autores" brasileiros. Lá vão alguns títulos que prometem uma corrida às livrarias no próximo ano:

- Licitações e contratos na administração pública, por César Maia e Carlos Arthur Nuzman
- A ética no Parlamento e o sigilo das votações, por Antônio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda
- Direção defensiva, por Edmundo
- Como multiplicar honestamente seu patrimônio, por Jader Barbalho
- Pecuária intensiva, por Renan Calheiros
- Compreendendo seus pais, por Suzane von Richthofen
- Golfe ao alcance de todos, por Luiz Henrique da Silveira
- Pela isenção dos meios de comunicação, por Roberto Civita
- Polidez e tolerância no texto jornalístico, por Diogo Mainardi
- Contabilidade criativa e administração financeira, por Marcos Magalhães Pinto (do Banco Nacional)
- Administração de negócios bancários, por Ângelo Calmon de Sá, Edemar Cid Ferreira e Salvatore Cacciola
- 1001 receitas de churrasco, por Jorge Lorenzetti
- Eficiência na prestação de serviço público, por Milton Zuanazzi
- Manual prático de digitação, por Luís Inácio da Silva
- Formando equipes vencedoras, por Carlos Alberto Parreira (Ops! Este já foi lançado!)

sábado, 28 de julho de 2007

UM EXEMPLO DE COMO A JUSTIÇA DEVERIA SER

Ementa:Utilização adequada de aparelho celular. Defeito. Responsabilidade solidária do fabricante e fornecedor.

Processo Número: 0737/05
Quem Pede: José de Gregório Pinto
Contra quem: Lojas Insinuante Ltda, Siemens Indústria Eletrônica S.A e Starcell Computadores e Celulares.

Vou direto ao assunto.

O marceneiro José de Gregório Pinto, certamente pensando em facilitar o contato com sua clientela, rendeu-se à propaganda da Loja Insinuante de Coité e comprou um telefone celular, em 19 de abril de 2005, por suados cento e setenta e quatro reais.

Leigo no assunto, é certo que não fez opção por fabricante. Escolheu pelo mais barato ou, quem sabe até, pelo mais bonitinho: o tal Siemens A52. Uma beleza!

Com certeza foi difícil domar os dedos grossos e calejados de marceneiro com a sensibilidade e recursos do seu Siemens A52, mas o certo é que utilizou o aparelhinho até o mês de junho do corrente ano e, possivelmente, contratou muitos serviços. Uma maravilha!

Para sua surpresa, diferente das boas ferramentas que utiliza em seu ofício, em 21 de junho, o aparelho deixou de funcionar. Que tristeza: seu novo instrumento de trabalho só durou dois meses. E olha que foi adquirido legalmente nas Lojas Insinuante e fabricado pela poderosa Siemens.....Não é coisa de segunda-mão, não! Consertado, dias depois não prestou mais... Não se faz mais conserto como antigamente!

Primeiro tentou fazer um acordo, mas não quiseram os contrários, pedindo que o caso fosse ao Juiz de Direito.

Caixinha de papelão na mão, indicando que se tratava de um telefone celular, entrou seu Gregório na sala de audiência e apresentou o aparelho ao Juiz: novinho, novinho e não funciona. De fato, o Juiz observou o aparelho e viu que não tinha um arranhão.

Seu José Gregório, marceneiro que é, fabrica e conserta de tudo que é móvel. A Starcell, assistência técnica especializada e indicada pela Insinuante, para surpresa sua, respondeu que o caso não era com ela e que se tratava de "placa oxidada na região do teclado, próximo ao conector de carga e microprocessador." Seu Gregório:o que é isto? Quem garante? O próprio que diz o defeito diz que não tem conserto....

Para aumentar sua angústia, a Siemens disse que seu caso não tinha solução neste Juizado por motivo da "incompetência material absoluta do Juizado Especial Cível – Necessidade de prova técnica." Seu Gregório: o que é isto? Ou o telefone funciona ou não funciona! Basta apertar o botão de ligar. Não acendeu, não funciona. Prá que prova técnica melhor?

Disse mais a Siemens: "o vício causado por oxidação decorre do mau uso do produto." Seu Gregório: ora, o telefone é novinho e foi usado apenas para falar. Para outros usos, tenho outras ferramentas. Como pode um telefone comprado na Insinuante apresentar defeito sem solução depois de dois meses de uso? Certamente não foi usado material de primeira. Um artesão sabe bem disso.

O que também não pode entender um marceneiro é como pode a Siemens contratar um escritório de advocacia de São Paulo, por pouco dinheiro não foi, para dizer ao Juiz do Juizado de Coité, no interior da Bahia, que não vai pagar um telefone que custou cento e setenta e quatro reais? É, quem pode, pode! O advogado gastou dez folhas de papel de boa qualidade para que o Juiz dissesse que o caso não era do Juizado ou que a culpa não era de seu cliente! Botando tudo na conta, com certeza gastou muito mais que cento e setenta e quatro para dizer que não pagava cento e setenta e quatro reais! Que absurdo!

A loja Insinuante, uma das maiores e mais famosas da Bahia, também apresentou escrito de advogado, gastando sete folhas de papel, dizendo que o caso não era com ela por motivo de "legitimatio ad causam", também por motivo do "vício redibitório e da ultrapassagem do lapso temporal de 30 dias" e que o pobre do seu Gregório não fez prova e então "allegatio et non probatio quasi non allegatio."

E agora seu Gregório?

Doutor Juiz, disse Seu Gregório, a minha prova é o telefone que passo às suas mãos! Comprei, paguei, usei poucos dias, está novinho e não funciona mais! Pode ligar o aparelho que não acende nada! Aliás, Doutor, não quero mais saber de telefone celular, quero apenas meu dinheiro de volta e pronto!

Diz a Lei que no Juizado não precisa advogado para causas como esta. Não entende seu Gregório porque tanta confusão e tanto palavreado difícil por causa de um celular de cento e setenta e quatro reais, se às vezes a própria Insinuante faz propaganda do tipo: "leve dois e pague um!" Não se importou muito seu Gregório com a situação: um marceneiro não dá valor ao que não entende! Se não teve solução na amizade, Justiça é para isso mesmo!

Está certo Seu Gregório: O Juizado Especial Cível serve exatamente para resolver problemas como o seu. Não é o caso de prova técnica: o telefone foi apresentado ainda na caixa, sem um pequeno arranhão e não funciona. Isto é o bastante! Também não pode dizer que Seu Gregório não tomou a providência correta, pois procurou a loja e encaminhou o telefone à assistência técnica. Alegou e provou!

Além de tudo, não fizeram prova de que o telefone funciona ou de que Seu Gregório tivesse usado o aparelho como ferramenta de sua marcenaria. Se é feito para falar, tem que falar!

Pois é Seu Gregório, o senhor tem razão e a Justiça vai mandar, como de fato está mandando, a Loja Insinuante lhe devolver o dinheiro com juros legais e correção monetária, pois não cumpriu com sua obrigação de bom vendedor. Também, Seu Gregório, para que o Senhor não se desanime com as facilidades dos tempos modernos, continue falando com seus clientes e porque sofreu tantos dissabores com seu celular, a Justiça vai mandar, como de fato está mandando, que a fábrica Siemens lhe entregue, no prazo de 10 dias, outro aparelho igualzinho ao seu. Novo e funcionando!

Se não cumprirem com a ordem do Juiz, vão pagar uma multa de cem reais por dia!

Por fim, Seu Gregório, a Justiça vai dizer a assistência técnica, como de fato está dizendo, que seu papel é consertar com competência os aparelhos que apresentarem defeito e que, por enquanto, não lhe deve nada.

À Justiça ninguém vai pagar nada. Sua obrigação é fazer Justiça!

A Secretaria vai mandar uma cópia para todos. Como não temos Jornal próprio para publicar, mande pelo correio ou por Oficial de Justiça.

Se alguém não ficou satisfeito e quiser recorrer, fique ciente que agora a Justiça vai cobrar.

Depois de tudo cumprido, pode a Secretaria guardar bem guardado o processo!

Por último, Seu Gregório, os Doutores advogados vão dizer que o Juiz decidiu "extra petita", quer dizer, mais do que o Senhor pediu e também que a decisão não preenche os requisitos legais. Não se incomode. Na verdade, para ser mais justa, deveria também condenar na indenização pelo dano moral, quer dizer, a vergonha que o senhor sentiu, e no lucro cessante, quer dizer, pagar o que o Senhor deixou de ganhar.

No mais, é uma sentença para ser lida e entendida por um marceneiro.

Conceição do Coité, 21 de setembro de 2005

Gerivaldo Alves Neiva
Juiz de Direito


Nota: esta sentença existiu mesmo. Está disponível em http://www.amab.com.br/gerivaldoneiva/index.php

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Messi, quem?

quinta-feira, 12 de julho de 2007

MAIS UMA PARA A SECÇÃO "PAGA PAU"


Sem querer, achei um site com algumas das melhores resenhas musicais de todos os tempos.

Essa revista gaúcha traz resenhas dos álbuns lançados aqui e no estrangeiro, bem como de alguns festivais nacionais. A diferença é que eles detonam a tudo e a todos, sem perdão e/ou preconceito de raça, origem, estilo musical ou orientação sexual (ou, se preferirem, com detonações descaradas em todos esses quesitos). Seus "repórteres" têm especial predileção por destruir o Planeta Atlântida (o original, do RS, diga-se de passagem; o de SC eles nem devem saber que existe; afinal, quem se importa com as filiais?).

Um exemplo de comentário (Planeta Atlântida 2006): "Ivete Sangalo (23h40min) + Charlie Brown: As coxas de Ivete Sangalo fizeram um bom show... Quanto ao resto, quem se importa?" Vai dizer que não é demais?

Bem melhores, por exemplo, do que o Álvaro Pereira Júnior, da Folha, que também gosta de menosprezar o provincianismo da produção musical nacional, mas sempre o faz em prol de algum artista que ganhou seus 15 minutos de fama em um bar obscuro de San Francisco ou Londres (talvez para entrever um certo ar de superioridade saxônica).

Não que eu concorde com todas as opiniões deles (a do Audioslave, por exemplo, discordo em grande parte), mas é muito legal ver o grau de indignação da "reportagem". Muito melhor do que a crítica elogiosa/condescendente dos jornais brasileiros.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Sim, eu descanso!

Pequeno intervalo para as férias de um servidor público cansado. Mas prometo que ainda nesta semana publico alguma coisa decente.

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Punks

Acabei de ver um quadrinho do Caco Galhardo, em que uma vaca diz que é punk porque tem um piercing, uma tattoo marcada a ferro e mastiga a comida que volta do estômago.

Muito legal isso. Por outro lado, será que os punks fazem "muuuuu"?

quinta-feira, 28 de junho de 2007

A CHOLDRA PAGA A CONTA E GANHA MEIO VOTO

(coluna do Elio Gaspari publicada na Folha de São Paulo em 27/06/2007; por sorte, parece que foi rejeitada a proposta de voto em lista fechada)

Sob a máscara de "reforma política", será posto em votação na Câmara dos Deputados o maior esbulho eleitoral já praticado desde o Pacote de Abril de 1977, que entregou um terço do Senado a uma raça de sem-votos, denominados biônicos. Agora, pretende-se entregar metade da Câmara e das Assembléias ao comissariado das tendências e direções partidárias.

Hoje, o contribuinte escolhe seus candidatos para representá-lo nas câmaras legislativas. O projeto petista, que tem o apoio dos Democratas e do PMDB, mutila esse direito e institui um novo tipo de voto. Chamam-no de "lista flexível".

No sistema vigente, a preferência do eleitor vai para um panelão onde estão todos os outros candidatos do mesmo partido. Aplicado um quociente que relaciona o total de votos dados à sigla, elegem-se os que tiveram melhor desempenho. Disso resulta que em muitos casos vota-se em Delfim Netto e elege-se Michel Temer. A esse sistema defeituoso, pretende-se aplicar um remédio que transfere aos comissários o direito de decidir a composição de metade das bancadas do legislativo.

O cidadão será obrigado a escolher primeiro o partido de sua preferência. Se for petista, digitará o número 13. Caso queira escolher um candidato (para compor metade da bancada), deverá proceder a uma segunda digitação, explicitando o número do seu preferido, por hipótese, 1313. Como todos os candidatos petistas têm os mesmos dígitos iniciais (13), o que se pretende é dificultar o voto nominal.

Como se a choldra tivesse o direito de escolher o partido mas, caso quisesse um nome, teria que coçar o nariz quatro vezes. A segunda metade das câmaras legislativas sairia de uma lista fechada. Os defensores do pacote sustentam que esse tipo de voto fortalece os partidos, dando-lhes mais músculos. Falso.

O artigo 6º da proposta fortalece apenas os atuais deputados, presenteando-os com o direito de encabeçar a lista. Num exemplo, da chapa petista de São Paulo, os deputados João Paulo Cunha, mensaleiro absolvido pelos pares; e Arlindo Chinaglia, presidente da sessão que pretende votar a "reforma", estariam automaticamente reeleitos, sem sair de casa. Na atribulada história do Parlamento brasileiro, jamais houve caso tão escancarado de prorrogação de mandatos.

Admita-se que o cidadão é um petista de carteirinha e tem fé nos comissários. Ele acha isso natural porque pretende fortalecer a estrela vermelha. Aí entra o aspecto cínico da "reforma". Ela cria "federações de partidos". Nesse caso, o petista vota no 13, mas poderá eleger um candidato do PC do B, caso ele se tenha coligado com o PT.

Mesmo assim, pode-se sustentar que a nação petista decidiu formar uma federação com o PC do B, e isso faz bem à democracia. Falso. O projeto admite que os partidos façam um varejo de coligações, em todos os níveis. Nada impede que o PT, ou o PMDB, faça uma sociedade com o PC do B em São Paulo, enquanto em Alagoas ele se alia ao PTB de Fernando Collor. Seria o caso de se propor uma emenda ao projeto. A patuléia passa a pagar só os salários do parlamentares em quem pode votar (a metade).

Os demais iriam buscar o seu com os comissários.

terça-feira, 19 de junho de 2007

"BUSH ASSASSINO! VIVA FIDEL!"

Li a frase acima, dia desses, em um muro nas redondezas de minha casa. Pelo que pude perceber nas quatro palavras (em letra muito feia, por sinal), o fulano autor da pichação, além de desconhecer o crime de dano ao patrimônio alheio, também andou cabulando aulas de História. Pelo que se entende, o presidente americano é a raiz de todos os males que acometem a humanidade. Pior, a ele foram imputados vários crimes contra a vida, pois recebeu a alcunha de "assassino".

Por outro lado, Fidel Castro, "presidente" de Cuba desde 1959, em um regime político de partido único, merece ovações do autor da frase. Só não sei dizer se o "viva" refere-se a um brinde à atuação de Fidel, ou se o pichador ressente-se de o líder cubano estar à beira da morte, e deseja que ele continue a viver.

Não posso negar que, desde 1959, Cuba teve muitos avanços sociais. A universalização do ensino e o ótimo sistema de saúde que eles têm (ou tinham) são bons exemplos disso. Todavia, creio que a experiência cubana poderia ter dado um passo à frente em 1991, quando a União Soviética deu lugar à CEI, e foram cortados todos os subsídios dos camaradas à experiência tropical-socialista.

Mesmo assim, não entendo a demonização do mandatário estadunidense, em contraposição ao seu semelhante cubano. Ora, será que o fato de o Sr. George "Johnny Walker" Bush ter sido indiretamente responsável por centenas de milhares de mortes no Iraque isenta Fidel de culpa? Creio que não.

George W. Bush cometeu (muitos) erros em seu mandato, inclusive comandar uma mal-sucedida invasão ao Iraque, culminando em guerra civil que até agora ceifou a vida de algumas centenas de milhares de inocentes. Aliás, os presidentes dos EUA mereciam um Tribunal de Nuremberg próprio, pois há muitas décadas patrocinam regimes totalitários assassinos. Para ficar em somente dois exemplos destestáveis, podem ser citados os de Mobutu Sese Seko, no Zaire, e o de Suharto, na Indonésia.

Fidel Castro, por sua vez, foi o responsável direto pela emigração de centenas de milhares de cubanos para a Flórida, além de ter ordenado a execução de muitos opositores nas prisões cubanas. Sem falar que comanda com mão de ferro um país há quase 50 anos, e falido há pelo menos 15 deles. Seria isso admissível?

Assusta-me mais ainda saber que, muito provavelmente, a pichação foi obra de um estudante universitário, espécime comum por aqui, pois moro nas cercanias da UFSC. Afinal, já vi professores em alguns cursos da UFSC resumirem a Humanidade em um maniqueísmo fundado na demonização do Estado de Direito e na quase canonização daqueles que instauraram ou tentaram instaurar a Revolução Socialista (assim mesmo, em maiúsculas) em alguma nação agrária.

Sinto pena desses alunos. Em vez de uma formação profissional, muitas vezes passam por alguns anos em um processo de doutrinação barata, sem profundidade. Derretem-se de amores por alguém como o Hugo Chávez, por exemplo, e passam os anos a maldizerem o sistema de produção que os alimentou e lhes deu educação. E então, já na meia-idade, resignam-se a trabalhar de assistentes administrativos em algum banco.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

CLICK ARVORE

Não sou de fazer propaganda para ninguém, e muito menos de pagar pau. Porém, nesses tempos de aquecimento global e "carbon free", vale a pena divulgar uma iniciativa como esta.

Trata-se do ClickArvore, projeto da ONG SOS Mata Atlântica. É uma iniciativa muito simples: primeiro, o sujeito cadastra-se no site. Feito isso, basta acessá-lo e clicar no ícone. Assim, o sujeito "planta" uma muda de árvore em algum projeto de reflorestamento da SOSMA. Os custos da muda e do plantio são pagos por um dos patrocinadores.

Cada usuário cadastrado tem o direito de plantar uma muda por dia. Porém, caso queira plantar mais mudas, ele pode adquiri-las, ao custo de R$1,20 por muda. A SOSMA encarrega-se de fazer o plantio delas. Todo plantio, pago ou gratuito, pode ser acompanhado pelo site, no qual é indicado o local onde este foi feito. Muitas vezes, também são mostradas fotos desse local.

Então pessoas, fica divulgada a iniciativa deles. Não vou ficar pedindo "por favor, cadastrem-se". Apenas digo que considero uma boa idéia. E quem quiser que a aproveite.

Vide:

quinta-feira, 31 de maio de 2007

IRON MAN

Ao ler o título acima, alguns devem ter começado a cantarolar "Has he lost his mind? / Can he see or is he blind? / Can he walk at all? / Or if he moves will he fall?" Mas não, amigos, não se trata da música do Black Sabbath. Quem dera fosse! Na verdade, o título refere-se ao Iron Man, evento que reuniu algumas dezenas de desportistas neste fim de semana em Florianópolis.

Desportistas, não! Loucos, isso sim. Afinal, uma pessoa normal não se disporia a nadar 4,8Km, pedalar outros 100Km e por fim dar uma "corridinha" de 42Km em troca de um patrocínio meia-boca e 12 segundos na mídia. Por isso sou obrigado a concluir que os competidores, na verdade, gostam do sofrimento a que se submetem. Fazer o quê? Cada um com as suas psicopatias.

Porém, não é sobre o Iron Man em si que eu gostaria de comentar. E sim sobre a tremenda putaria que o Poder Público fez com o trânsito da cidade para que essa competição ocorresse. Alguém tentou dirigir em Floripa no dia da prova? Se tentou, garanto-lhe que deve ter chegado em casa no mínimo com vontade de atropelar um ciclista.

A cada evento "internacional", Floripa tem suas principais vias urbanas fechadas. Pode ser etapa do Iron Man, da Fórmula Renault, Festival de Axé ou a corrida dos cheiradores de lolozinho anônimos. Qualquer coisa serve para tornar a cidade um verdadeiro caos, do ponto de vista da circulação de pessoas. Fecham-se a Avenida Beira-mar, a Via Expressa Sul e a SC-401 (as três principais artérias de tráfego), enquanto os cidadãos (expliquemos aos governantes: ELEITORES) espremem-se em vias tortuosas construídas em 1915.

Digam-se, senhores: para quem é feita a cidade? Para seus habitantes, que pagam impostos (e elegem os que estão no poder), ou para os promotores de tais eventos? Não quero colocar-me contra a realização destes, até porque a visibilidade que dão à cidade movimenta a (parca) atividade turística daqui.

Não que os carros devam ser privilegiados. Em Brasília, a principal via da cidade (o Eixão) é fechada ao tráfego todos os domingos, para ser utilizada como pista de caminhada e ciclovia. Em lugar dos carros, ganha-se um espaço público que proporciona lazer a milhares de pessoas, e não um espaço privado para alguns promotores de eventos ganharem dinheiro em cima.

Pensemos no interesse público. Será que não existem outras vias da cidade que podem ser fechadas para sediar tal evento? Sugestão: a estrada do Rio Vermelho. Com certeza seriam muito menos os prejudicados do que os que o foram domingo passado. E, se formos fechar uma via para o tráfego, não é melhor fazermos para que a população em geral a utilize?


Update: desculpem-me pelo erro nas distâncias da prova. Segundo me informaram, são 3,8 km de natação, 180 km de ciclismo e 42 km de corrida. De qualquer maneira, ainda assim considero loucura percorrê-las.

terça-feira, 22 de maio de 2007

"PENSANDO A CIDADE- RELATÓRIO DA PALHAÇADA"

Recebi essa por e-mail, com o assunto acima. Segundo consta, o relato é de uma pessoa gabaritada que esteve presente no evento e, por respeito ao seu trabalho na área do meio ambiente o seu nome foi omitido, para evitar perseguições.

"Florianópolis - PENSANDO A CIDADE - Com o "palestrante" Luiz Henrique da Silveira
(Ontem, 15/05)

Horário de início oficial do evento: 18:30

18:45 - Chego na FIESC. Entro no hall e para minha surpresa tá rolando um coquetel... Será que eu errei o horário e a palestra já acabou?? Nãooo, enquanto eu tomava um café me explicam que o Governador tá voltando de uma "missão em Brasília" (esse é o código pro red ou pro black label?) e vai atrasar um pouco, por isso liberaram a ração pra porcada não
berrar.

19:00 - Contagem: tem uns 5 alunos da UFSC. A Beatriz, professora de arquitetura, também está presente.

19:15 - Fui na recepção pegar meu "material". Só tinha propaganda, a única coisa útil eram 2 folhas em branco e uma caneta. Foi aí que reparei: o evento é patrocinado por Elevadores
ThyssenKrupp, Gerdau e Grupo Votoran... Cimento, aço e elevadores... OH, O QUE
SERÁ QUE ELES QUEREM FAZER COM FLORIPA??

19:16 - Um amigo meu tem a sensacional idéia de mudar o nome do evento para "Concretando a Cidade".

19:20 - Pessoal começa a entrar no auditório. Música de motel rolando.

20:15 - Com quase 2h de atraso (isso que é respeito pelo povo!) chega a noiva, seguida de uma tripa de puxa-saco. Sem brincadeira, eram uns 20 seguindo ele auditório abaixo, parecia que tavam segurando a grinalda da criança.

20:30 - A mulher do Bom Dia SC é a mestre de cerimônias. Discursinho de boas vindas, hino nacional, blablabla, e chega a hora de chamar os componentes da mesa (umas 15 pessoas). Sem brincadeira, aquilo era a listagem da Polícia Federal: Marcondes (Costão), Péricles de Freitas (Presidente Habitasul; 3 envolvidos), entre mais uma corja realmente DO MAL.

20:45 - O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil da Grande Florianópolis faz uma abertura da palestra, onde mete pau na operação Moeda Verde e trata a corja da mesa como heróis injustiçados. Passam então um vídeo produzido pelo Sindicato, que parece muito ter sido produzido com base na entrevista do LHS na TVBV. Um total absurdo, uma falta de bom senso.

20:50 - Aparecem palmas quando o cara se empolga metendo pau na Polícia Federal. Pela contagem das palmas, concluí que 2/3 da platéia era formada de puxa-sacos e empresários. O outro 1/3 da platéia que não bateu palmas era formado por estudantes, professores e outras pessoas com cérebro.

21:00 - A apresentadora bonitinha informa que devido ao fato do tempo ser curto e o governador ter outros compromissos depois da palestra (22h - Martini; 23h - Conhaque) a platéia não poderia FORMULAR PERGUNTAS(!). Ouve-se um murmúrio das pessoas com cérebro, e um com o cérebro um pouco maior berra: "Eu já sabia! Conta alguma novidade!!"

21:02 - Chega a hora da excelentíssima morsa falar. Não vou detalhar muito porque ele praticamente repetiu o que disse na entrevista (com algumas besteiras inéditas).

21:05 - Pauladas na PF. Citações de Marx, de filósofos gregos e o escambau pra defender os indiciados. Discurso emocionado e indignado. Dois terços de palmas. Mete pau nas favelas e diz que onde não se constrói empreendimentos tudo acaba virando favela e esgoto a céu aberto. Palmas.

21:20 - Começa com um histórico besta sobre economia. Enrolação pra dar uma de cult. Logo se cansa do papinho e volta a atacar. Dessa vez é o CONAMA quem vai pro saco. "Meia dúzia de técnicos que pensam que mandam no mundo", berra cuspindo. Um terço da platéia indignada, boquiaberta. Dois terços clap clap clap.

21:40 - Papinho dos hotéis. Fala do hotel "internacional" que acabou indo pra Tailândia porque aqui não rolou. Dá exemplos pitorescos das mil e uma edificações que ele viu em suas viagens, atingindo o clímax dando o exemplo de um hotel em que o hóspede desce de elevador (ThyssenKrupp?), pega uma ESTEIRA ROLANTE por cima da AREIA e é "depositado" confortavelmente na sua marina. Dois terços aplaudindo, um terço se beliscando pra confirmar que não era um pesadelo.

21:50 - LHS dá a informação de que ele está negociando a vinda de uma grande montadora de automóveis pra cá (olha a idéia), mas o motivo de estarmos perdendo a concorrência pra um Estado vizinho é de que aqui não há nenhuma escola americana pros filhos dos frufrus crescerem falando inglês, e que acima disso a principal exigência dos gringos é que eles PRECISAM de um campo de golfe, senão não rola!!! PUTA MERDA!! Momento de maior tumulto na platéia, risadas histéricas e uns berros indignados. Pensei na sugestão deles jogarem críquete na joaquina. Ou ainda peteca, frescobol. Só faltou o LHS se abaixar, levantar a toalha da mesa, baixar as calças do Mr. Costão do Santinho e lamber suas bolas. Mas isso não aconteceu, pelo menos durante a palestra.

22:00 - Mais algumas besteiras intercaladas com palmas e beliscões e ele parte pro final. Discurso inflamado e emocionado, papinho sobre crescimento e desenvolvimento blablabla e o 'muito obrigado' final. Palmas enfurecidas.

22:01 - Uma mulher levanta a voz pra falar com LHS e começa a dizer que quando a convidaram pra participar da palestra o tema não uma cerimônia de louvor à essa putada que tenta destruir nossa ilha, e muito menos um ritual de achincalhamento à Polícia Federal, ao Ministério Público, aos Vereadores de Floripa e ao CONAMA. A horda de puxa-sacos começa a vaiar e não deixa a mulher continuar a falar. Os com cérebro começam a aplaudir a mulher. Confusão do demonho, pessoal começa a se levantar pra sair e tudo acaba com um semi-bafafá. Luiz Henrique deixa o local um pouco transtornado. FIM!

É isso pessoal, parece que mês que vem tem mais. Gostaria que essa parcela de 1/3 aumentasse... é a cidade de vocês em jogo."


E a mensagem termina com uma frase igualmente boa: "O mundo é uma festa, e o gelo está acabando"
.


Update: o Fábio Brüggemann, no Diário Catarinense, informou que essa narrativa veio de um estudante de engenharia ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina chamado João Wendel.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

A CHINA COMO POTÊNCIA MUNDIAL?

"China, próxima potência mundial". Quantas vezes nos deparamos com essa frase - ou derivadas dela - nos telejornais ou na mídia escrita. É a nova queridinha dos economistas. A Miriam Leitão, por exemplo, chega a ter orgasmos cada vez que comenta sobre a economia chinesa.

Todavia, continuo fui reticente quanto ao desenvolvimento da economia chinesa. Em primeiro lugar, de que adianta ter um crescimento industrial fantástico, com produtos ruins como os deles? Apenas como exemplo: dia desses fui pego de surpresa por um aguaceiro, e tive de comprar de um ambulante (leia-se camelô) um guarda-chuva, de fabricação chinesa. Situação semelhante ocorre com canetas, brinquedos e qualquer outra porcaria que se compre no camelô da esquina. É comprar e quebrar. Agora me perguntem se eu pretendo comprar um carro chinês...

Provavelmente algum economista antigo vai lembrar que o Japão, nas décadas de 1950 e 1960, também manufaturava produtos de qualidade sofrível, mas hoje é a segunda economia do mundo e suas empresas são sinônimo de controle de qualidade. Tudo bem, mas a origem da indústria japonesa remonta ao século XIX. As décadas de 1950 e 1960 serviram apenas para recuperar de forma rápida - e de certa forma barata - uma economia arrasada pela guerra.

Já a economia "industrial" chinesa é recente. De tão ridícula, na década de 1960, o líder Mao (Tse Tung) tentou produzir aço a partir das panelas doadas pelos camponeses. Somente em 1978 é que eles começaram a produzir alguma coisa, e ainda assim eram cópias malfeitas de produtos japoneses, europeus e americanos. Tinham (e têm) apenas uma vantagem: o preço. E mesmo assim porque são produzidas com mão-de-obra próxima da escravidão e sem o pagamento de royalties.

Além disso, não dá para confiar numa candidata a potência em que 85% da população ainda vive na Idade Média. Por isso, se eu fosse um investidor, continuaria a depositar meus milhões em mercados mais confiáveis. Só que não o sou. Ainda bem! Já imaginou se eu erro?

segunda-feira, 14 de maio de 2007

DESVENTURAS DO SACERDÓCIO JOANINO

Podemos conceituar um sacerdote como um ministro religioso, habilitado para dirigir ou participar em cerimônias de culto. Muitas culturas os celebram como seres de notável inteligência e virtude, detentores de um saber filosófico cuja compreensão não compete a nós, pobre seres mundanos entregues ao materialismo e à luxúria.

No catolicismo, o sacerdote chama-se padre. O catecismo dessa religião ensina que este é o porta-voz e os braços de Deus. Para tanto, deve possuir vocação para a vida religiosa, bem como celebrar alguns votos, entre os quais, pelo que lembro, figuram o da obediência a Deus e o do celibato.

Não vejo, nem nunca vi, essas virtudes em minha pessoa. Em primeiro lugar, eu não poderia celebrar um voto de obediência a uma entidade metafísica, quando não o conseguia fazer nem em relação aos meus pais, com toda a existência física dos seus chinelos. Quanto ao celibato, não devo ter discordado dele durante a infância. Contudo, quando a puberdade e seus hormônios afloraram em mim - juntamente com as espinhas a que tinham direito - provavelmente excluí esse vocábulo de minha língua corrente.

Muito embora minha alma estivesse léguas atrás da virtude religiosa, havia pessoas que pensavam o contrário. Lembro-me em minha infância de alguns familiares que, ao olharem para mim, insistiam em atribuir-me uma vocação que nunca tive. Diziam eles, cada vez que me viam: "Esse menino vai ser padre". Não adiantava retrucar. Eu era uma criança; logo, qualquer manifestação minha seria recebida não como uma opinião, mas sim como uma frase após a qual certamente seria ouvida a expressão "que engraçadinho".

Jamais entendi essa obsessão familiar em querer que eu seguisse tal vocação religiosa. Afinal, eu era o único neto homem de meu avô, por conseguinte o único capaz de levar a memória de minha família às gerações futuras, ao menos do ponto de vista do registro civil. Ora, como eu poderia fazê-lo sendo um religioso católico celibatário? Teria eu de deixar de ser celibatário, e portanto indigno de ser um religioso católico. Ou, então, dirigiria minha vocação para outra confissão que não impusesse o celibato aos seus ministros, fato que, para uma família tipicamente açoriana como a minha, seria mais indigno do que tornar-me um religioso católico não-celibatário.

Os anos se passaram, e com eles qualquer esperança de eu ser jogado à rotina diária de um seminário católico. Aliás, fui jogado para uma rotina bem distante disso, entregue às virtudes e vocações mundanas. Todavia, vinte anos mais tarde, outras pessoas devem ter visto em mim a mesma vocação religiosa que meus parentes um dia viram.

Alguns colegas de trabalho resolveram aproveitar o mês de julho para realizar uma festa junina, ou melhor, "julina", como diziam. Talvez não houvesse lhes vindo a idéia de que não seria necessário alterar o nome do evento, pois o adjetivo "junina" vem de "joanina", ou seja, referente a São João, o santo católico homenageado no dia 24 de junho. No entanto, quem poderia culpá-los? Eu mesmo não o saberia, caso não houvesse consultado uma enciclopédia enquanto escrevia essas linhas.

No intuito de identificar o evento com a sua proposta, sugeriram a montagem de uma curta apresentação teatral, em torno do tema "casamento na roça", integrante do folclore joanino. Entre as personagens, figurava o papel do padre. E adivinhem quem foi indicado para personificá-lo? Sim, aquele que, no entender de alguns colegas, tinha "cara de padre": eu mesmo.

Prontamente rebati a idéia de meus colegas, classificando-a como inapropriada, para não dizer ridícula. Mas aos poucos, diante da insistência de uma amiga, organizadora do evento, minha resistência à idéia foi cedendo. Afinal, quem poderia resistir àquele par de olhos azuis que pareciam suplicar "por favor, ajuda"? Enfim, tomado por um sentimento de companheirismo, fui convencido a aceitar o convite para interpretar o tal ministro religioso.

Chegou o dia dos festejos. Batina no corpo, bíblia na mão, cerveja no sangue e pernas trêmulas, dei início às minhas falas, todas de improviso. Para dar um charme à apresentação, até comecei a orar, em latim: "Pater noster, qui es in cælis, sanctificetur nomen tuum; adveniat regnum tuu" e assim sucessivamente. Obviamente, não devo ter recitado essas palavras como um pretor romano, se é que de fato as pronunciei. Entretanto, creio que a bebida - em mim e nos convivas - fez a prece soar algo bem próximo disso.

Passaram-se os minutos, as falas de improviso, algumas tiradas cômicas, e enfim encerrou-se a cena folclórica, sob aplauso dos colegas. E foi assim que, naquele dia, satisfiz essa vontade, já perdida no tempo, de meus familiares: tornei-me padre. De festejos joaninos, é verdade. Mas é melhor do que nada, não é mesmo? Um belo prêmio de consolação para aqueles que ainda vislumbram um traço de santidade numa alma tão impura.

(crônica publicada originalmente em livro resultante do II Concurso Literário da Semana do Servidor de SC)

sábado, 12 de maio de 2007

EXTERNANDO UM PRECONCEITO

Continuo a não entender o xiismo. Seus seguidores preferem cobrir as mulheres com véus; em compensação, gostam de cultivar barbas bem grandes e espinhentas. Aí, cinco vezes ao dia, todos os barbudos se trancam em uma sala onde ficam prostrados - de quatro mesmo - uns atrás dos outros, a admirarem as nádegas do próximo. E uma vez por ano entregam-se ao masoquismo, quando se batem com chicotinhos na Ashura.

Como diria o porteiro Severino, da (infame) Zorra Total: "Doutor, isso é uma bichona!"

Xiitas, expliquem-se, por favor!

quinta-feira, 10 de maio de 2007

STÁLIN OU CHURCHILL, DE GAULLE E EISENHOWER?

Dia desses assisti ao filme "A Queda - as últimas horas de Hitler", produção austro-ítalo-germânica sobre os últimos momentos do Reich alemão, até a sua rendição em 7 de maio de 1945. Fica como dica cinematográfica para aqueles que desejam ver a Segunda Guerra Mundial de um ponto de vista diferente dos "vencedores" do lado ocidental do mundo. Causa espanto a forma como a psique de Hitler é escancarada para o público, mostrando não somente seu lado extremamente perturbado, como também os momentos em que era tão humano quanto seus adversários (se é que líderes "aliados" poderiam ser chamados de humanos).

Chamou a minha atenção um detalhe no final do filme. Ao mostrar o que aconteceu com cada um dos líderes alemães, percebi que aqueles que foram aprisionados pelos soviéticos foram libertados logo após a morte de Stálin em 1953 (ou, no máximo, até 1955). Isso porque o líder soviético Nikita Krushchev resolveu anistiá-los e mandá-los de volta para a Alemanha (Oriental).

Por sua vez, os líderes que caíram diante dos americanos, ingleses e franceses foram encaminhados para um julgamento "justo" em Nuremberg, em razão do qual foram condenados a ficarem presos até a década de 1960 ou - nos casos mais gravosos, como o do chanceler Göhring - a serem executados.

Diante disso, fico na dúvida: quer dizer que os "sanguinários" soviéticos, "comedores de criancinhas", libertaram seus prisioneiros de guerra muito antes dos "humanistas" americanos, ingleses e franceses? O que fazer diante da notícia que, enquanto os prisioneiros dos Gulags morreram de velhinhos, no final da década de 1990, aqueles julgados em Nuremberg, quanto muito, chegaram ao final da década de 1960?

É, a imprensa ocidental no pós-guerra, muitas vezes, foi subserviente aos interesses de seus governantes. Claro, não pretendo dizer que Stálin foi um cara legal, bonzinho, defensor dos direitos humanos, etc. Deixo esse papel para o "idiota" descrito por Vargas Llosa (filho) e outros em seu famoso manual*. Trago este fato apenas para deixarmos de ver o mundo dessa época a partir de um ponto de vista maniqueísta, no qual os americanos, ingleses e franceses foram os "libertadores", enquanto os soviéticos não passavam de tiranos. Na minha opinião, nenhum deles foi pior nem melhor em relação aos demais; foram apenas... governantes.

Se bem que viver até 1990 na Alemanha Oriental não devia ser lá muito gratificante. Ao menos se considerarmos a propaganda hollywoodiana, que em seus filmes pintava os países da "Cortina de Ferro" como se fossem o Inferno na Terra. Por outro lado, o que vocês preferem? Morrer na década de 1960 em Bonn**, ou viver até a década de 1990 dirigindo um Trabant***? Particularmente, não acho o Trabant tão ruim assim.


* Para os menos letrados, trata-se do "Manual do Perfeito Idiota Latino-americano", de Plínio Apuleyo Mendoza, Álvaro Vargas Llosa e Carlos Alberto Montaner.
** Capital da Alemanha Ocidental
*** Automóvel fabricado na Alemanha Oriental, que se tornou símbolo do atraso tecnológico dos regimes socialistas europeus.

terça-feira, 8 de maio de 2007

A AVENIDA DAS ANTAS

Anta, ou Tapirus terrestris, é um animal aparentado com o cavalo, porém de fenótipo suíno, com o corpo curto e atarracado, pescoço grosso e focinho em forma de tromba curta e móvel. Vive em florestas densas e perto da água, pois gosta de nadar. Alimenta-se de galhos tenros, folhas de árvores, arbustos, frutos, folhas e raízes. Por alguma razão desconhecida, seu nome passou a adjetivar injustamente as pessoas de inteligência sofrível.

A Avenida Madre Benvenuta, em Florianópolis, consiste em importante logradouro do bairro Santa Mônica, sendo a principal via de acesso ao bairro do Itacorubi e ao campus da UDESC. Outrora uma via vicinal, hoje suporta um tráfego insuportável, em razão do crescimento populacional nas adjacências. Sua concepção urbanística não previa tamanho fluxo de pessoas e veículos, sendo, por conseguinte, uma reta de quase 3 Km entrecortada por pseudo-cruzamentos mal sinalizados com várias vias transversais.

O problema se agrava ainda mais pela ignorância, quiçá arrogância, dos motoristas que nela trafegam diariamente. Não são raros os que cruzam a pista sem atentar para veículos em rota de colisão, utilizando porcamente os tais pseudo-cruzamentos. Também são comuns os que tentam fazer perigosas ultrapassagens (pela direita), ameaçando atropelar um pedestre desavisado (apesar das faixas de segurança; por sinal, um mero enfeite nas pistas de Floripa), ou colidir com um dos veículos mal estacionados na pista da direita (erro da prefeitura: insistir em permitir o estacionamento numa via de fluxo intenso).

Por tudo isso, eu apelidei carinhosamente (ou nem tanto) essa via de Avenida das Antas, em homenagem à alcunha preconceituosa do primeiro parágrafo. Sei que não é a denominação ideal, por ser um desrespeito ultrajante aos bichinhos. No entanto, é a forma mais direta de definir o comportamento de grande parte dos motoristas e pedestres que por ali passam, principalmente na hora do rush (às 18 h). É um egocentrismo sem tamanho: todos pretendendo ser os "donos da rua", desfilando pelo asfalto como se os outros fossem reles plebeus a lhes cederem passagem, ou , entao, circulando a menos da metade do tráfego (isso dá multa, sabiam?), e, pior ainda, ocupando exatamente a metade de cada uma das pistas, apenas para evitar que alguém chegue ao destino antes desses senhores (senhoras e senhoritas idem).

Será possível que essas pessoas não poderiam ter algumas aulas de educação no trânsito (para os arrogantes), ou de perspicácia e agilidade (para os ignorantes em geral)? Ou, mais ainda, terem as suas habilitações suspensas até aprenderem a dirigir (para os indivíduos que realizam a proeza de conjugarem o pior das duas inabilidades)?

Desculpem-me, antas (os animais), por desrespeitá-las.

PS: Nenhuma anta foi maltratada para a elaboração deste texto, embora algumas residentes nas adjacências o mereçam.

(texto publicado originalmente em 2003, no meu outro blog que foi pro saco; coloquei-o aqui porque está mais atual do que nunca, ainda mais depois da inaguração do Shopping Iguatemi)