quarta-feira, 30 de abril de 2008

JÁ VAI TARDE (TAMBÉM)

FIM DA ONDA NEOLIBERAL


Luiz Carlos Bresser-Pereira


O fracasso das reformas neoliberais em em promover o crescimento, a guerra do Iraque, e agora a crise bancária americana marcam o declínio dos Estados Unidos como hegemônicos e o fim da onda idelógica neoliberal.


Chegou ao fim a onda ideológica neoliberal que dominou o mundo nos últimos 30 anos no quadro da hegemonia americana. Dois fatos ocorridos nas últimas semanas marcaram esse fim inglório; de um lado, o socorro do banco de investimento Bear Stearns; de outro, as revoltas populares em vários dos 33 países hoje seriamente atingidos pelo aumento dos preços dos alimentos. Essa ideologia reacionária que visava reformar o capitalismo global para fazê-lo voltar aos tempos do capitalismo liberal do século 19 revelou ter fôlego curto. E não poderia ser de outra forma, já que estava em contradição com os avanços políticos e institucionais que transformaram o Estado liberal do século 19 no Estado democrático e social da segunda metade do século 20.


Apoiada na hegemonia americana, a onda ideológica neoliberal teve início em 1980, com a eleição de Ronald Reagan, e chegou ao auge nos anos 1990, com o colapso da União Soviética, mas nos anos 2000 entrou em declínio. Três fatores contribuíram para a crise: 1) o fracasso das reformas e da macroeconomia neoliberais em promover o desenvolvimento econômico dos países periféricos que a aceitaram; 2) o desastre político e humano representado pela guerra contra o Iraque; e 3), mais recentemente, a grande crise bancária que a desregulamentação financeira facilitou.


Nos últimos dias, a intervenção para salvar um banco de investimento e a ameaça de fome causada pela elevação dos preços dos alimentos marcam definitivamente o fim da utopia neoliberal de uma sociedade regulada principalmente pelo mercado. Não preciso de maior argumentação para demonstrar por que o socorro do Bear Stearns tem esse sentido. Conforme afirmou na ocasião Martin Wolf abrindo seu artigo semanal, "lembre a sexta-feira, 14 de março de 2008: foi o dia em que o sonho de um capitalismo de livre mercado morreu". (Folha, 26/ 3/08). Engana-se, porém, Wolf em falar em "sonho". Trata-se antes de um pesadelo, porque, se é verdade que o mercado é um excelente alocador de recursos, mesmo nesse campo precisa de regulação para evitar instabilidade. Já em relação aos demais valores que a humanidade tão arduamente construiu, o mercado é cego, ignorando os princípios mais elementares de honestidade, proteção da natureza e justiça social.


Essa cegueira assumiu caráter dramático com a notícia de que as populações pobres de pelo menos 33 países estão ameaçadas de fome devido à alta dos preços dos alimentos. Se a ideologia neoliberal dominante nestes últimos 30 anos não houvesse se encarregado de convencer os países pobres de que não precisavam de suas culturas de produtos alimentícios, de que era mais econômico especializar-se em alguma outra atividade (geralmente de valor adicionado per capita igualmente baixo) e importar seus alimentos básicos, os povos desses países não estariam agora em justa revolta.


Creio que existem boas razões para acreditarmos no desenvolvimento econômico e político dos povos. É absurda, porém, a ideologia que pretende alcançar o bem-estar econômico capitalista sem se beneficiar do desenvolvimento político democrático, sem contar com a ação corretiva e regulatória do Estado democrático e social que tão arduamente a sociedade moderna vem construindo e do qual faz parte um mercado livre mas regulado. Não teremos saudades do neoliberalismo.


Fonte: Folha de S.Paulo, 21.4.2008

sexta-feira, 25 de abril de 2008

MÃO INVISÍVEL?

Surpreendem-me as críticas de analistas brasileiros à decisão do Ministério da Agricultura de não exportar os estoques públicos de arroz. Argumentam que afeta o "livre mercado". A Globo chegou a mencionar em uma "restrição ao direito do consumidor estrangeiro".

Ora, não há restrição alguma ao tal "livre mercado" (que, mesmo em economias mais avançadas, de livre não tem nada). Os empreendedores privados que produzem ou estocam arroz podem vendê-lo para quem quiser, sem óbices. Até a ideia do tal "imposto de exportação" foi arquivada.

Os estoques públicos, contudo, não serão vendidos no mercado externo, por decisão do governo. Isso não afeta os direitos de ninguém. Afinal, eles pertencem ao Estado. Foram adquiridos no mercado nas safras anteriores. Decidir não vendê-los lá fora é uma decisão do Estado, que é regulador, e não comerciante.

Estranho seria se esses estoques - comprados com o dinheiro dos tributos dos brasileiros - fossem utilizados para matar a fome de africanos e latino-americanos, em detrimento do povo que os pagou.

terça-feira, 1 de abril de 2008

REENGENHARIA

Comunico aos 35 mil leitores deste notável veículo de comunicação que a partir de hoje a atualização de cada uma das secções será diária. Para isso contactaremos responsáveis pelas editorias de opinião, pensamentos e literatura, os quais ficarão a cargo das respectivas atualizações.