quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

CAPITALISMO DE OCASIÃO

A União Europeia suspendeu a compra de carne bovina brasileira, alegando que houve um problema com a lista das propriedades brasileiras que poderiam fornecê-la. Os europeus indicaram que poderiam aceitar a carne de 300 propriedades, entretanto o Brasil apresentou uma lista com 2.861 propriedades.

É ridículo desdobrar-se para tentar atender aos europeus, cujos governos estão sob pressão dos produtores locais. É óbvio que a decisão europeia não foi sanitária, e sim política. Mercantilismo puro. Onde estão a tal "mão invisível" e as vantagens competitivas? E a Organização Mundial do Comércio, que, em tese, deveria punir os Estados que impusessem barreiras não-tarifárias injustificáveis?

Atender às reivindicações de governos pressionados por produtores ineficientes é admitir a condição de colônia de exploração. Os europeus não querem a carne brasileira? Vendam-na, então, para outros lugares: China, África, Oriente Médio... Mercados não faltam. E até pagam melhor.

Bob Fields, o que você pensaria disso?

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

PALIATIVO

Essa medida dos governos catarinense e federal, de proibir a venda de bebidas alcoólicas em estabelecimentos às margens de rodovias, soa como a do homem, que, para não ser traído pela esposa, joga fora o sofá.

Sinceramente, senhores, não é mais eficaz realizar blitze, durante as madrugadas, em locais de notória passagem de bêbados? Em Florianópolis, por exemplo, esses bloqueios poderiam ser feitos às 2:30 da manhã, na saída do Morro da Lagoa, no retão da SC-401 e nas cabeceiras das pontes. Imagino que, em uma noite, os apreendidos alcançariam a casa das dezenas.

Apenas para lembrar: nos Estados Unidos, a década de 1930 - quando imperava a Lei Seca - foi o período em que mais se bebeu naquele país; a bebida ilegal também ajudou a fomentar as máfias em várias cidades, notadamente Chicago.

É, mais uma do país dos paliativos.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

SERRA LEOA ANDINA

Soa como piada essa das FARC, na Colômbia, exigirem a criação de uma zona desmilitarizada para iniciar negociações de paz.

Uma zona desmilitarizada para quê? Para virar um Estado paralelo, uma terra sem lei, como aconteceu em todos os países da África onde isso foi feito (e com a chancela da ONU)?

Ora, quando o governo colombiano lhes concedeu uma zona desmilitarizada, há alguns anos atrás, só o que fizeram foi fortalecer suas posições em nome de la revolución.

As FARC deveriam tomar vergonha na cara, depor armas e participar do processo político na Colômbia. Quero ver quantos votos eles conseguiriam.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

A LÍNGUA NÃO TEM OSSO

A (falta de) memória política faz coisas. É engraçado ver os senadores do PSDB e do PFL serem tão incisivos em criticar o Lula, tendo em vista o seu apoio à eleição de Renan Calheiros para a Presidência do Senado. Afinal, ele foi Ministro da Justiça do governo de Fernando Henrique Cardoso em 1998, governo este do qual participavam PSDB e PFL.

Não se trata das pastas do Turismo ou da Pesca, mas da Justiça. Um dos ministérios de maior prestígio, que existe desde a Independência.

domingo, 6 de janeiro de 2008

A EPOPEIA DE IR À PRAIA DE ÔNIBUS NUM FINAL DE SEMANA

Um dos temas que mais atraem a atenção dos habitantes de Floripa deve ser o do transporte coletivo. Esse serviço público, que já provocou protestos acalorados de estudantes, deve ser o campeão de manifestações indignadas de seus usuários nos jornais locais. Chega a rivalizar com as mensagens relacionadas ao futebol catarinense e às estripulias governamentais na capital federal.

Percebi que muitas das reclamações de usuários do transporte coletivo concentravam-se na falta de horários nos fins de semana. Pelo jeito, utilizar os ônibus nesses dias deveria ser uma verdadeira epopeia (no sentido de uma seqüência de atos heroicos). Mas será que era mesmo assim tão assustador como falavam?

Resolvi comprovar a situação com a seguinte experiência: ir, de ônibus, a uma das praias mais distantes da ilha, em pleno final de semana. Seria uma experiência interessante, e ainda por cima ecologicamente correta. Mas não imaginei o quão heroicos teriam de ser os atos para cumprir esse objetivo.

A aventura começou num domingo desses de final de verão. Acordei pela manhã, vi o sol, arrumei-me e desci para o ponto de ônibus. Nele, deparei-me com uma considerável aglomeração de pessoas. “Que ótimo!” - pensei – “Se há tantas pessoas esperando, o ônibus deve passar logo”. Ledo engano. A espera prosseguiu por mais meia hora, sob um sol que começava a ficar escaldante.

Duas turistas conversavam, ou melhor, reclamavam da demora. Uma delas mencionou que devia ter acontecido alguma coisa, pois não era possível que tal demora fosse habitual. É, elas deveriam estar certas. Afinal, os ônibus não podem atrasar tanto, ainda mais em Floripa, cidade tão mencionada como exemplo de organização, não é mesmo?

Passados quarenta e cinco minutos desde que havia saído de casa, cheguei ao Centro da cidade. Faltava, agora, dirigir-me à praia. Escolhi a de Ponta das Canas, por ser tranqüila e estar no extremo norte da ilha. Fui procurar uma linha chamada “Ponta das Canas”. Não havia. Informaram-me que eu deveria pegar uma outra linha, até um terminal no norte da ilha, onde eu deveria entrar em outro ônibus para dirigir-me ao meu destino.

Não foi difícil encontrar a linha para o tal terminal. Ela estava bem ao lado de uma imensa fila. Coloquei-me no meu lugar e aguardei, civilizadamente, a minha vez de entrar no veículo. No entanto, quando as portas se abriram, todo aquele povo que também aguardava pacientemente a sua vez foi substituído por hordas selvagens que não se importavam em pisotear os menos acostumados à situação. Recuperado do susto, fui o último a entrar no ônibus. Mesmo assim, consegui um lugar bem confortável para viajar, naquele espaço que usualmente é reservado para a abertura da porta traseira, entre os degraus da escada e uma lixeira.

A viagem seguiu tranquila, se é que confinar 300 pessoas num espaço onde caberiam no máximo 100 delas pode ser uma tranqüilidade. E, tendo chegado vivo e quase inteiro ao terminal - e rezado umas preces de agradecimento por isso - fui procurar o ponto da terceira e última linha necessária para concluir a minha aventura. Essa foi fácil de encontrar; afinal, eu sabia o nome do lugar para onde eu iria. Só não sabia que a fila para ele estaria misturada com as filas para outras duas localidades. Por pouco, não entrei em um veículo que me levaria a muitos quilômetros do destino pretendido.

Depois de quase duas horas de viagem, cheguei ao meu destino. Claro, por muito pouco também não passei direto por ele, pois não encontrei nenhum ponto de descida. A sorte me fez descobrir que o ônibus pára em frente a um mercadinho, no qual não havia nenhuma indicação de parada. Mas “todo mundo sabe” que lá é o ponto de descida. Eu não sabia. Deve ser porque não tive acesso aos panfletos turísticos distribuídos em Buenos Aires, Porto Alegre e São Paulo, nos quais provavelmente estão descritos esses detalhes tão conhecidos do cotidiano das comunidades florianopolitanas.

Enfim, pude curtir a praia, com suas águas calmas, canchas de bocha e argentinos. Teria sido um dia muito agradável, não fosse a viagem de volta, na qual todas as agruras da manhã foram repetidas. E pensei que, numa próxima vez, talvez fosse melhor ir a Balneário Camboriú ou a Itapema, cujas praias estão mais distantes, porém de acesso mais fácil. Ou mandar às favas meus princípios ecológicos, aderir ao american way of life e ir de carro mesmo.