sexta-feira, 28 de novembro de 2008
CONSERVADORES
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
FALTA D'ÁGUA NA CABEÇA...
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
SARCASMO
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
UM POUCO DE CRIMINOLOGIA
ENQUANTO ISSO...
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
LIVRE MERCADO
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
ESTATÍSTICA?
Muito embora ambas afirmassem ter margem de erro de dois pontos percentuais, e a população pesquisada ser a mesma, qual seja, os eleitores no Município de São Paulo, havia algo estranho: as amostras das duas pesquisas eram diferentes. Uma era de cerca de 1900 eleitores, enquanto outra beirava os 2100 eleitores.
Pode parecer banal, mas o cálculo da amostra decorre de uma fórmula matemática, a qual parte da população e da margem de erro. Logo, para mesma população e mesma margem de erro, a amostra deveria ser a mesma.
Por razões como esta tento ser crítico ao ver os resultados dessas pesquisas.
terça-feira, 23 de setembro de 2008
SALVARAM O BB E A CEF
Fannie Mae se chama Federal National Mortgage Association e Freddie Mac, Federal Home Mortgage Corporation. Numa tradução livre, são respecticamente a "Associação Federal de Hipotecas Nacionais" e a "Empresa Federal de Hipotecas de Habitação". A origem delas remonta à década de 1930 (em plena Grande Depressão), para salvar os contratos imobiliários de milhões de famílias.
Mais em http://hnn.us/articles/1849.html (texto em inglês, escrito em 2003).
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
O ESTADO NORTE-AMERICANO
(coluna do Fernando Rodrigues publicada na Folha de São Paulo em 08/09/2008; gostei especialmente da parte sobre o tamanho do Estado nos EUA e a intervenção deste na sociedade de lá)
domingo, 7 de setembro de 2008
BIO O QUÊ?
terça-feira, 19 de agosto de 2008
GIGANTISMO NANICO
Aos fatos: segundo dados do US Census Bureau (o IBGE deles), o Estados Unidos dispunham, em 2002, mais de 21 milhões de servidores públicos (2,6 milhões federais e o restante nos Estados e condados) para uma população de 281 milhões de pessoas. Ou seja 7,47% da população dos Estados Unidos era servidora pública.
No Brasil, segundo dados dos órgãos oficiais (IBGE e MPOG), em 2004 existiam cerca de 7,4 milhões de servidores (1 milhão federais, 2 milhões estaduais e 4,5 milhões municipais), aí contados efetivos e temporários. Para 186 milhões de habitantes, isso dá 3,97% da população.
Essa comparação foi feita com os Estados Unidos, país tido como terra liberal, como exemplo de tamanho do Estado, entre outros adjetivos. Ou seja, com a meca dos que cunharam as expressões ditas no primeiro parágrafo.
Vemos que, numericamente, não sobram servidores públicos no Brasil. Pelo contrário, faltam muitos. Estamos, portanto, a muitos anos de atingir o nível de serviço em países mais civilizados.
Parece-me que o problema não está no número de servidores públicos, mas na qualidade do seu serviço. Faz poucos anos que começaram a implementar a avaliação de desempenho na gestão pública brasileira (aqui, onde trabalho, esta ainda passa longe). Como esperar que o pessoal trabalhe assim?
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
PALPITE DA SEMANA
quinta-feira, 3 de julho de 2008
LEI UMEDECIDA
quinta-feira, 26 de junho de 2008
CHUVA, E AGORA?
Todo esse tempo de sol já me causava estranheza. Afinal, a chuva faz parte do verão catarinense. Além disso, quem precisa de praia o dia inteiro, não é mesmo? Coisa chata ficar o dia inteiro sem fazer absolutamente nada além de se espreguiçar sob o sol e, de vez em quando, refrescar-se em um banho de mar. Pior: correr o risco de afogar-se no mar, de contrair uma insolação ou um câncer de pele. Bom mesmo é ficar trabalhando num ambiente com ar-condicionado, contribuindo para o crescimento da economia nacional.
Creio ser provável que vocês já estejam convencidos de que essa mania de dias de sol e praia não está com nada. Ou então já me rogaram algumas pragas e direcionaram alguns impropérios à minha pessoa. Mas não podemos negar é que a grande questão a ser levantada nesses tempos é: o que podemos fazer num dia de chuva em Floripa?
Eu poderia elaborar uma daquelas listas do tipo “10 coisas que podem ser feitas em Floripa durante um dia de chuva”, mas tenho duas razões para não o fazer. A primeira delas é que não sei se existem 10 coisas que podem ser feitas nessas situações. A outra razão é que outro colunista um pouco menos medíocre pode me processar por plágio, uma vez que ele se tornou notório por essas listagens.
Quando chove, a primeira coisa que pensamos em fazer é... ficar em casa, óbvio! Afinal, o que fazer na rua com um tempo desses? Enfrentar um trânsito infernal, ruas alagadas, vento, debaixo de gotas d’água caindo do céu, não é uma missão das mais agradáveis. Bem melhor ficarmos no conforto de nossos lares, pedirmos uma pizza e vermos filmes, não é mesmo?
Se você respondeu “não” à pergunta acima, provavelmente faz parte da grande maioria das pessoas que não são ranzinzas como eu (embora eu prefira dizer que isso não é ser rabugento, mas tão-somente racional). Por isso, sempre existem aqueles que, mesmo com chuva, pretendem fazer algum programa fora do conforto de seus lares ou hospedagens, ainda que para isso tenham de enfrentar esses aguaceiros todos.
A primeira coisa que as pessoas em Floripa costumam fazer quando chove é ir ao shopping. Sim, shopping center, um centro comercial em cuja estrutura existem estabelecimentos comerciais como lojas, lanchonetes, restaurantes, salas de cinema, parques de diversões, bem como estacionamento. É a maior vitrine das maravilhas do capitalismo cosmopolita, e nossa cidade, tão aberta à cultura de outras localidades (apesar do movimento “Fora Haole” que, como todos sabem, é intriga da oposição), não poderia deixar de ter um ou dois deles.
De fato, esse costume de ir ao shopping em dias de chuva já foi amplamente absorvido pelos turistas que visitam a cidade, os quais, nos primeiros sinais de dias nublados, dirigem-se a esses centros de compras para aproveitar as ofertas (???) neles oferecidas. Além disso, o shopping não se resume a um templo onde as pessoas exercem o seu direito de praticar o consumismo desenfreado. Muitos se dirigem aos seus cinemas, seja para ver um filme, seja para pegar uma fila quilométrica só por diversão. Já alguns simplesmente ficam passeando sem rumo, utilizando os corredores do centro comercial como pista de caminhadas.
Outro programa possível de ser feito é ir a um dos museus. Sim, para aqueles que não sabem, em Floripa existem alguns museus. Certas pessoas entendem que esses locais não passam de casinhas velhas, cheias de objetos mais velhos ainda. Outros já entendem que estes ajudam a contar parte da história da cidade e de Santa Catarina. Esses ambientes desconhecidos da maioria talvez sejam os melhores programas para quem tem alguns neurônios de sobra para gastar com a história da cidade.
No entanto, se a pessoa prefere gastar seus neurônios com doses de álcool e gordura, há a opção de exercitar o pecado da gula, dirigindo-se a um dos muitos restaurantes, bares e biroscas da cidade. Essa talvez seja a opção mais democrática: existem desde sofisticados (e caros) restaurantes de cozinha internacional até o mais tradicional boteco. Assim, o candidato a gourmet pode degustar desde ostras gratinadas com chopp de primeira qualidade até moelas fritas de frango com alguma cerveja barata. No entanto, esse programa tem um grave ponto negativo: o seu excesso pode transformar o usuário em candidato a astro de uma continuação do filme “Supersize Me”, além de cliente assíduo de clínicas de spa, médicos cardiologistas e produtos dietéticos.
Enfim, pudemos perceber como são variadas as opções de lazer em nossa cidade quando a natureza não nos permite ir à praia. Porém, já que temos mais sorte que juízo, São Pedro (ou, dependendo da sua crença religiosa, Tupã, Javé, Jeová, etc) deve trazer o sol de volta logo, logo. Até lá, tenham paciência!
quinta-feira, 5 de junho de 2008
quarta-feira, 4 de junho de 2008
GOSTEI DESSA
quinta-feira, 29 de maio de 2008
ESTRANHO SETOR
quinta-feira, 15 de maio de 2008
MASSAGEM NO EGO 2
Fico assustado com opiniões como a do leitor Emannuel Gorenc, publicada em 14 de maio. Disse ele que, se o indivíduo está preso, alguma ele fez. Completa afirmando que "bandidos deveriam ser presos em jaulas, juntamente com leões famintos". Ora, senhor Gorenc, em primeiro lugar, não dá para pressupor que, se o indivíduo está preso, alguma ele fez. Mesmo o Estado erra; no caso do Brasil, erra muito. Ademais, estamos num Estado Democrático de Direito. Neste, existem direitos a serem respeitados, mesmo os daqueles que cometeram algum crime. Assim, a função da pena para um criminoso não é a mera punição, mas sim a da recuperação de um ser humano. Se assim não fosse, não seríamos dignos de dizer que vivemos em uma instituição chamada civilização. Se a sua for a opinião da maioria dos brasileiros, estamos condenados à barbárie.
O jornalista José Reinoldo Rosenbrock, da cidade de Timbó, foi de extrema infelicidade na sua colocação sobre o transporte "desconfortável" de presos em viaturas não apropriadas das polícias (Diário do Leitor de 12 de maio). Ele até critica o pessoal dos direitos humanos! Ora, se o indivíduo foi preso, alguma infração grave cometeu, como estupro, assalto a mão armada, seqüestro, homicídio, tortura. Bandidos deveriam ser presos em jaulas, juntamente com leões famintos, e não se locomoverem em viaturas confortáveis, como diz o leitor de Timbó. Emannuel Gorenc, Gerente administrativo, Laguna.
quarta-feira, 14 de maio de 2008
MASSAGEM NO EGO
No dia 7 de maio, pela manhã, estava eu na Feira do Livro de Florianópolis, quando o sistema de som anunciou a apresentação de dança de uma escola estadual. Ao olhar para o palco, surpreendi-me com o que foi apresentado: tratava-se de um grupo de adolescentes dançando o "Créu" e, depois, a "Piriguete". Nada contra essas músicas em si. Em uma casa noturna, ou numa festa, elas poderiam ser executadas sem problemas; nesses casos, erra quem as censurar. Todavia, em uma apresentação dita "cultural" de uma escola estadual, ainda mais num evento aberto como aquele, tais músicas são inadequadas. Mesmo que a idéia tenha partido dos alunos, caberia ao professor explicar-lhes que o conteúdo dessas músicas é inadequado para representar a escola em um evento cultural; aliás, é inadequado para a vida.
terça-feira, 13 de maio de 2008
UMA QUESTÃO JURÍDICA
terça-feira, 6 de maio de 2008
LIBERAL (OU NEM TANTO)
Há pouco tempo, publiquei um texto sobre o estereótipo do estudante universitário de tendência esquerdista. Mencionei, até, que este passa a vida a maldizer o capitalismo, para depois trabalhar no sistema financeiro.
Dia desses, percebi que um outro espécime universitário vem ganhando vulto: o estudante liberal. Não, amigo, não se trata daquele liberal de costumes (ou seja, moderninho, com opções - inclusive sexuais - bem variadas). Refiro-me ao liberal mesmo, no sentido econômico do termo. Ou seja, aquele para quem que toda riqueza é obtida pelo trabalho, defendendo a livre concorrência e a lei da oferta e da procura.
Revoltado com o processo de doutrinação esquerdista que ocorre em muitos ambientes universitários, esse estudante vive a idolatrar o modo de produção capitalista e a superestimar a dimensão do mercado no espaço público. Por isso, pretende que o Estado interfira o menos possível na economia e deixe a iniciativa privada - a panaceia universal - cuide de tudo (o tal "Estado Mínimo").
Até aí, não haveria nada de mais. Tudo bem em ser liberal. Mesmo não concordando na totalidade com essa linha de pensamento, tenho a consciência de que a universidade é um lugar para debates. Logo, é até bom que o espectro político seja variado. Os problemas desses estudantes são dois: 1) abominam tudo o que vem da esquerda; e 2) os liberais brasileiros não são tão liberais como proclamam.
Na falta de partidos que os representem, esses estudantes acabam por se filiar e a seguir fervorosamente os partidos considerados "de direita". E o problema está justamente nos partidos brasileiros "de direita", ditos liberais. Estes, na verdade, são conservadores, em todos os aspectos: político, econômico e de costumes.
Não é exagero dizer que a direita brasileira, no aspecto político, é pouco (ou nada) comprometida com a democracia. Seus expoentes filiaram-se a todas os regimes ditatoriais havidos na história republicana. Ainda hoje, se assim lhes convier, defendem a derrubada de governos que não lhes agradam.
Pior: seus expoentes são patrimonialistas, ou seja, costumam associar-se a um Estado que não possui distinções entre os limites do público e os limites do privado. Por isso que, no aspecto econômico, a direita brasileira, de liberal, não tem nada. Muitos de seus integrantes defendem que o Estado não intervenha na economia, a não ser, é claro, que essa intervenção lhes venha a trazer benefícios econômicos. Livre concorrência? Para quê? É bem melhor que o Estado lhes provenha oligopólios e maximize os lucros de suas empresas familiares.
Na verdade, apenas uma característica permite classificar a direita brasileira como tal. Trata-se do seu antagonismo com os partidos ditos "de esquerda", os quais - pelo que foi visto no noticiário político e policial recente - também apresentam um caráter patrimonialista. E assim, o espectro político brasileiro baseia-se mais em rivalidades pessoais do que programáticas.
Mas isso não importa para os liberais brasileiros. Se não é o seu grupo que está no poder, far-se-á oposição sistemática ao governante. Não importa a natureza da proposta, ou se vale a pena discuti-la. Esta advém dos "comunistas", logo, deve ser rejeitada.
Quando o assunto são os costumes, os liberais brasileiros acabam por revelar a sua face conservadora. Criticam, ardorosamente, qualquer proposta de discussão de temas "modernos", como, por exemplo, o aborto, os direitos homoafetivos ou a descriminalização das drogas. Tudo em nome da "tradição" e da "família". Estranho ser liberal assim.
Seria até bom que os tais estudantes liberais promovessem uma reforma na direita brasileira, pois falta aqui um partido sério nessa corrente de pensamento. Mas isso vai ser difícil. Por isso, seria mais proveitoso se esses estudantes rompessem com o passado e fundassem uma nova legenda, o que duvido que farão.
De toda forma, também sinto pena de muitos desses estudantes. Diante do mercado de trabalho restrito, é muito provável que, depois da formatura, acabem por fazer concursos públicos. Se forem aprovados, vão trabalhar para o Estado contra o qual tanto vociferaram. Se não o forem, suas críticas degeneram-se para o mero ressentimento de não ter entrado na festa.
quarta-feira, 30 de abril de 2008
JÁ VAI TARDE (TAMBÉM)
FIM DA ONDA NEOLIBERAL
Luiz Carlos Bresser-Pereira
O fracasso das reformas neoliberais em em promover o crescimento, a guerra do Iraque, e agora a crise bancária americana marcam o declínio dos Estados Unidos como hegemônicos e o fim da onda idelógica neoliberal.
Chegou ao fim a onda ideológica neoliberal que dominou o mundo nos últimos 30 anos no quadro da hegemonia americana. Dois fatos ocorridos nas últimas semanas marcaram esse fim inglório; de um lado, o socorro do banco de investimento Bear Stearns; de outro, as revoltas populares em vários dos 33 países hoje seriamente atingidos pelo aumento dos preços dos alimentos. Essa ideologia reacionária que visava reformar o capitalismo global para fazê-lo voltar aos tempos do capitalismo liberal do século 19 revelou ter fôlego curto. E não poderia ser de outra forma, já que estava em contradição com os avanços políticos e institucionais que transformaram o Estado liberal do século 19 no Estado democrático e social da segunda metade do século 20.
Apoiada na hegemonia americana, a onda ideológica neoliberal teve início em 1980, com a eleição de Ronald Reagan, e chegou ao auge nos anos 1990, com o colapso da União Soviética, mas nos anos 2000 entrou em declínio. Três fatores contribuíram para a crise: 1) o fracasso das reformas e da macroeconomia neoliberais em promover o desenvolvimento econômico dos países periféricos que a aceitaram; 2) o desastre político e humano representado pela guerra contra o Iraque; e 3), mais recentemente, a grande crise bancária que a desregulamentação financeira facilitou.
Nos últimos dias, a intervenção para salvar um banco de investimento e a ameaça de fome causada pela elevação dos preços dos alimentos marcam definitivamente o fim da utopia neoliberal de uma sociedade regulada principalmente pelo mercado. Não preciso de maior argumentação para demonstrar por que o socorro do Bear Stearns tem esse sentido. Conforme afirmou na ocasião Martin Wolf abrindo seu artigo semanal, "lembre a sexta-feira, 14 de março de 2008: foi o dia em que o sonho de um capitalismo de livre mercado morreu". (Folha, 26/ 3/08). Engana-se, porém, Wolf em falar em "sonho". Trata-se antes de um pesadelo, porque, se é verdade que o mercado é um excelente alocador de recursos, mesmo nesse campo precisa de regulação para evitar instabilidade. Já em relação aos demais valores que a humanidade tão arduamente construiu, o mercado é cego, ignorando os princípios mais elementares de honestidade, proteção da natureza e justiça social.
Essa cegueira assumiu caráter dramático com a notícia de que as populações pobres de pelo menos 33 países estão ameaçadas de fome devido à alta dos preços dos alimentos. Se a ideologia neoliberal dominante nestes últimos 30 anos não houvesse se encarregado de convencer os países pobres de que não precisavam de suas culturas de produtos alimentícios, de que era mais econômico especializar-se em alguma outra atividade (geralmente de valor adicionado per capita igualmente baixo) e importar seus alimentos básicos, os povos desses países não estariam agora em justa revolta.
Creio que existem boas razões para acreditarmos no desenvolvimento econômico e político dos povos. É absurda, porém, a ideologia que pretende alcançar o bem-estar econômico capitalista sem se beneficiar do desenvolvimento político democrático, sem contar com a ação corretiva e regulatória do Estado democrático e social que tão arduamente a sociedade moderna vem construindo e do qual faz parte um mercado livre mas regulado. Não teremos saudades do neoliberalismo.
Fonte: Folha de S.Paulo, 21.4.2008
sexta-feira, 25 de abril de 2008
MÃO INVISÍVEL?
terça-feira, 1 de abril de 2008
REENGENHARIA
quarta-feira, 19 de março de 2008
DEMERITOCRACIA
Na escola, sempre se destacou como o primeiro da classe. Os professores tinham medo de lhe dar aulas, receosos que ele lhes trouxesse alguma pergunta da qual não soubessem a resposta.
E, de fato, ele foi o primeiro colocado nos exames de admissão à universidade. Faria, assim, uma entrada triunfal nos estudos superiores.
O problema é que não podiam dar a vaga a ele. Por lei, todas as vagas disponíveis estavam destinadas a integrantes de alguma minoria oprimida. E ele parecia demasiado "normal" para ser classificado em alguma delas.
Mesmo assim, tentaram fazê-lo. Era só classificá-lo em alguma minoria racial. Parecia um trabalho fácil. Afinal, havia cotas para negros, pardos, índios, amarelos, indianos, javaneses, polinésios e esquimós.
Só que o menino não colaborava: insistira em nascer branquinho como o leite. "Mas que azar o dele!" - pensaram - "Foi nascer justamente na classe opressora e má".
Mesmo assim, não desistiram de encontrar-lhe uma vaga. Afinal, ele merecia! Procuraram, nas leis, alguma brecha que lhes permitisse incluí-lo como "cotista".
E a legislação era vasta. Além das cotas raciais, encontraram reservas para caminhoneiros, filhos de policiais baleados pelo tráfico, taxistas, camelôs, donas de casa que apanharam de seus maridos e portadores de gripe espanhola. Nenhuma delas servia.
Descobriram até mesmo uma lei que reservava vagas a imbecis. O problema: ele, obviamente, era inteligente demais para ser classificado como tal. Mesmo assim, resolveram utilizar esse dispositivo, dando um "jeitinho" para ajudar tão valoroso estudante.
Uma junta médica tratou de classificar o então jovem como portador de inteligência um pouco abaixo da média. Apenas o suficiente para enquadrá-lo no tal dispositivo legal de proteção aos imbecis.
Com o atestado médico, puderam conceder-lhe a tão sonhada vaga nos estudos superiores. Não foi a entrada triunfal que imaginaram, mas, diante das dificuldades, uma pequena entrada pela janela - como de fato o foi - serviria.
Deram-lhe apenas uma recomendação: que, ao assistir às aulas, não se revelasse o aluno brilhante de sempre. Ou seja, deveria portar-se da forma mais imbecil possível, para não gerar desconfianças.
Esperto, o rapaz entendeu o recado, e nunca demonstrava a inteligência que tinha. Nas aulas, ficava quieto, segurando a vontade de corrigir os colegas ou os professores. Nas provas e trabalhos, apenas o suficiente para ser aprovado, e nada mais.
Os anos se passaram, e, com eles, aproximava-se a data de formatura do geniozinho. Pensaram que este, sim, seria o momento de glória que não pôde ocorrer quando da sua entrada na faculdade.
Mas nada viram. Ele não foi o orador da turma. Tampouco participou de qualquer das homenagens ou discursou. O rapaz simplesmente levantou, pegou seu diploma e voltou a sentar-se. De resto, permaneceu calado e imóvel. Sorria somente para as fotos que todo formando faz para seu álbum de formatura.
Ao final da cerimônia, foram conversar com ele. "O que houve?", perguntaram-lhe. "Era sua formatura, o que combinamos não importava mais. Por que você quis se manter tão discreto?"
O rapaz não entendeu as perguntas. Do geniozinho de anos atrás, nada mais restava. Os anos de discrição lhe foram cruéis. Seu desempenho mediano nos estudos não lhe permitiria vôos muito altos. E ele sequer lembrava como fazer para melhorá-lo.
Porém, havia arranjado um emprego de escriturário, uma profissão que não requeria muitos estudos, é verdade, mas que lhe pagava o suficiente para viver. Assim, agradeceu aos senhores pela oportunidade de conseguir aquele diploma, que, naquela etapa da vida, já não era mais necessário.
E foi embora cedo, pois no dia seguinte tinha muitas guias a emitir e fotocópias a tirar.
terça-feira, 4 de março de 2008
PROJETO DA UFSC REDUZ PELA METADE USO DE ÁGUA POTÁVEL EM CASA
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
JÁ VAI TARDE
Digo reinado porque seus sucessivos mandatos podem ser caracterizados como tal. Afinal, foram 49 anos à frente do Conselho de Estado, órgão máximo do governo cubano.
Desde que Fidel Castro assumiu o poder em Cuba, a Igreja Católica teve 5 papas, os Estados Unidos da América, 9 presidentes, e o Brasil, 8 moedas. Acho que é tempo suficiente para caracterizar o regime cubano como monarquia.
Nesse longo período, houve, em Cuba, avanços primorosos na área da educação, saúde e desportos. E esse talvez seja o maior mérito da experiência tropical-socialista. Soma-se a isso, é claro, a forma como o líder cubano caçoava dos mandatários estadunidenses, para deleite dos demais latino-americanos. Fidel, portanto, cumpriu bem o seu papel nesses itens.
Houve, também, um embargo econômico imposto pelos Estados Unidos. Num primeiro momento, essa medida foi implantada em razão da Guerra Fria, e depois decorreu da pressão da oligarquia cubana da época da ditadura de Fulgencio Batista, e que depois se viu exilada em Miami, privada das tetas do Estado no qual mamaram durante centenas de anos.
Não fosse o embargo dito acima, talvez Cuba estivesse melhor atualmente. Talvez não. O certo é que a renúncia de Fidel veio com 15 anos de atraso. Se o tivesse feito em 1993, sairia como herói. A década de 1990 seria perdida para Cuba, como o foi em outros tantos países que renunciaram ao comunismo naquela época. Todos eles enfrentaram uma séria recessão econômica que se seguiu à retirada dos subsídios da antiga União Soviética.
No entanto, nos anos seguintes poderia vir uma recuperação, de forma que o padrão de vida melhorasse no médio prazo, como ocorreu na Polônia, Hungria e República Tcheca. E o motor dessa recuperação seria justamente o notável sistema educacional implantado desde 1959.
Mesmo que, do ponto de vista econômico, Cuba não estivesse melhor, ainda assim digo: Fidel, sinto dizer, mas tarde é pouco para a hora em que vais.
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
CAPITALISMO DE OCASIÃO
É ridículo desdobrar-se para tentar atender aos europeus, cujos governos estão sob pressão dos produtores locais. É óbvio que a decisão europeia não foi sanitária, e sim política. Mercantilismo puro. Onde estão a tal "mão invisível" e as vantagens competitivas? E a Organização Mundial do Comércio, que, em tese, deveria punir os Estados que impusessem barreiras não-tarifárias injustificáveis?
Atender às reivindicações de governos pressionados por produtores ineficientes é admitir a condição de colônia de exploração. Os europeus não querem a carne brasileira? Vendam-na, então, para outros lugares: China, África, Oriente Médio... Mercados não faltam. E até pagam melhor.
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
PALIATIVO
Sinceramente, senhores, não é mais eficaz realizar blitze, durante as madrugadas, em locais de notória passagem de bêbados? Em Florianópolis, por exemplo, esses bloqueios poderiam ser feitos às 2:30 da manhã, na saída do Morro da Lagoa, no retão da SC-401 e nas cabeceiras das pontes. Imagino que, em uma noite, os apreendidos alcançariam a casa das dezenas.
Apenas para lembrar: nos Estados Unidos, a década de 1930 - quando imperava a Lei Seca - foi o período em que mais se bebeu naquele país; a bebida ilegal também ajudou a fomentar as máfias em várias cidades, notadamente Chicago.
sexta-feira, 11 de janeiro de 2008
SERRA LEOA ANDINA
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
A LÍNGUA NÃO TEM OSSO
domingo, 6 de janeiro de 2008
A EPOPEIA DE IR À PRAIA DE ÔNIBUS NUM FINAL DE SEMANA
Percebi que muitas das reclamações de usuários do transporte coletivo concentravam-se na falta de horários nos fins de semana. Pelo jeito, utilizar os ônibus nesses dias deveria ser uma verdadeira epopeia (no sentido de uma seqüência de atos heroicos). Mas será que era mesmo assim tão assustador como falavam?
Resolvi comprovar a situação com a seguinte experiência: ir, de ônibus, a uma das praias mais distantes da ilha, em pleno final de semana. Seria uma experiência interessante, e ainda por cima ecologicamente correta. Mas não imaginei o quão heroicos teriam de ser os atos para cumprir esse objetivo.
A aventura começou num domingo desses de final de verão. Acordei pela manhã, vi o sol, arrumei-me e desci para o ponto de ônibus. Nele, deparei-me com uma considerável aglomeração de pessoas. “Que ótimo!” - pensei – “Se há tantas pessoas esperando, o ônibus deve passar logo”. Ledo engano. A espera prosseguiu por mais meia hora, sob um sol que começava a ficar escaldante.
Duas turistas conversavam, ou melhor, reclamavam da demora. Uma delas mencionou que devia ter acontecido alguma coisa, pois não era possível que tal demora fosse habitual. É, elas deveriam estar certas. Afinal, os ônibus não podem atrasar tanto, ainda mais em Floripa, cidade tão mencionada como exemplo de organização, não é mesmo?
Passados quarenta e cinco minutos desde que havia saído de casa, cheguei ao Centro da cidade. Faltava, agora, dirigir-me à praia. Escolhi a de Ponta das Canas, por ser tranqüila e estar no extremo norte da ilha. Fui procurar uma linha chamada “Ponta das Canas”. Não havia. Informaram-me que eu deveria pegar uma outra linha, até um terminal no norte da ilha, onde eu deveria entrar em outro ônibus para dirigir-me ao meu destino.
Não foi difícil encontrar a linha para o tal terminal. Ela estava bem ao lado de uma imensa fila. Coloquei-me no meu lugar e aguardei, civilizadamente, a minha vez de entrar no veículo. No entanto, quando as portas se abriram, todo aquele povo que também aguardava pacientemente a sua vez foi substituído por hordas selvagens que não se importavam em pisotear os menos acostumados à situação. Recuperado do susto, fui o último a entrar no ônibus. Mesmo assim, consegui um lugar bem confortável para viajar, naquele espaço que usualmente é reservado para a abertura da porta traseira, entre os degraus da escada e uma lixeira.
A viagem seguiu tranquila, se é que confinar 300 pessoas num espaço onde caberiam no máximo 100 delas pode ser uma tranqüilidade. E, tendo chegado vivo e quase inteiro ao terminal - e rezado umas preces de agradecimento por isso - fui procurar o ponto da terceira e última linha necessária para concluir a minha aventura. Essa foi fácil de encontrar; afinal, eu sabia o nome do lugar para onde eu iria. Só não sabia que a fila para ele estaria misturada com as filas para outras duas localidades. Por pouco, não entrei em um veículo que me levaria a muitos quilômetros do destino pretendido.
Depois de quase duas horas de viagem, cheguei ao meu destino. Claro, por muito pouco também não passei direto por ele, pois não encontrei nenhum ponto de descida. A sorte me fez descobrir que o ônibus pára em frente a um mercadinho, no qual não havia nenhuma indicação de parada. Mas “todo mundo sabe” que lá é o ponto de descida. Eu não sabia. Deve ser porque não tive acesso aos panfletos turísticos distribuídos em Buenos Aires, Porto Alegre e São Paulo, nos quais provavelmente estão descritos esses detalhes tão conhecidos do cotidiano das comunidades florianopolitanas.
Enfim, pude curtir a praia, com suas águas calmas, canchas de bocha e argentinos. Teria sido um dia muito agradável, não fosse a viagem de volta, na qual todas as agruras da manhã foram repetidas. E pensei que, numa próxima vez, talvez fosse melhor ir a Balneário Camboriú ou a Itapema, cujas praias estão mais distantes, porém de acesso mais fácil. Ou mandar às favas meus princípios ecológicos, aderir ao american way of life e ir de carro mesmo.