quinta-feira, 29 de maio de 2008

ESTRANHO SETOR

Passava eu pelo campus da UFSC em Florianópolis, quando me deparei com a placa de um setor dessa universidade. Chamava-se: Comissão de Prevenção ao Uso Abusivo de Drogas.

Achei bem estranho o nome de tal comissão. Uso ABUSIVO de drogas? Então quer dizer que usar drogas tudo bem, desde que não seja em grandes quantidades?

O que será que eles dizem aos alunos? Imaginei alguns exemplos:

- "Gente, puxem apenas um baseado por dia, tá?"
- "Cheirem apenas socialmente."
- "Só beber, tudo bem. Beber, cair e levantar não pode!"
- "Cigarros estão liberados, mas apenas o suficiente para lhes causar impotência, e não câncer de boca."

Não seria mais lógico que o nome desse setor focasse a prevenção ao simples uso das drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas? Afinal, se é uma droga, esta, em princípio, não deveria ser usada. Ou não?

quinta-feira, 15 de maio de 2008

MASSAGEM NO EGO 2

E, já que o ócio é criativo, segue mais uma que emplaquei, desta vez no Diário Catarinense de hoje:

Fico assustado com opiniões como a do leitor Emannuel Gorenc, publicada em 14 de maio. Disse ele que, se o indivíduo está preso, alguma ele fez. Completa afirmando que "bandidos deveriam ser presos em jaulas, juntamente com leões famintos". Ora, senhor Gorenc, em primeiro lugar, não dá para pressupor que, se o indivíduo está preso, alguma ele fez. Mesmo o Estado erra; no caso do Brasil, erra muito. Ademais, estamos num Estado Democrático de Direito. Neste, existem direitos a serem respeitados, mesmo os daqueles que cometeram algum crime. Assim, a função da pena para um criminoso não é a mera punição, mas sim a da recuperação de um ser humano. Se assim não fosse, não seríamos dignos de dizer que vivemos em uma instituição chamada civilização. Se a sua for a opinião da maioria dos brasileiros, estamos condenados à barbárie.

Foi uma resposta à singela opinião abaixo (delicado como um elefantinho):

O jornalista José Reinoldo Rosenbrock, da cidade de Timbó, foi de extrema infelicidade na sua colocação sobre o transporte "desconfortável" de presos em viaturas não apropriadas das polícias (Diário do Leitor de 12 de maio). Ele até critica o pessoal dos direitos humanos! Ora, se o indivíduo foi preso, alguma infração grave cometeu, como estupro, assalto a mão armada, seqüestro, homicídio, tortura. Bandidos deveriam ser presos em jaulas, juntamente com leões famintos, e não se locomoverem em viaturas confortáveis, como diz o leitor de Timbó. Emannuel Gorenc, Gerente administrativo, Laguna.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

MASSAGEM NO EGO

Cartinha minha publicada no Diário Catarinense de 9 de maio de 2008:

No dia 7 de maio, pela manhã, estava eu na Feira do Livro de Florianópolis, quando o sistema de som anunciou a apresentação de dança de uma escola estadual. Ao olhar para o palco, surpreendi-me com o que foi apresentado: tratava-se de um grupo de adolescentes dançando o "Créu" e, depois, a "Piriguete". Nada contra essas músicas em si. Em uma casa noturna, ou numa festa, elas poderiam ser executadas sem problemas; nesses casos, erra quem as censurar. Todavia, em uma apresentação dita "cultural" de uma escola estadual, ainda mais num evento aberto como aquele, tais músicas são inadequadas. Mesmo que a idéia tenha partido dos alunos, caberia ao professor explicar-lhes que o conteúdo dessas músicas é inadequado para representar a escola em um evento cultural; aliás, é inadequado para a vida.

terça-feira, 13 de maio de 2008

UMA QUESTÃO JURÍDICA

Um transexual brasileiro tenta de todas as formas, na Justiça brasileira, obter a mudança de nome e de sexo. O Judiciário, reiteradamente, nega-lhe o pedido, pois a lei brasileira não permite essa mudança.

Certo dia, vai morar na Holanda. Lá, naturaliza-se, obtém legalmente a mudança de nome e de sexo, e faz a cirurgia ("corta fora").

Anos depois, esse transexual volta ao Brasil, agora como cidadã holandesa. Conhece um brasileiro e pretende casar-se com ele, sob as leis brasileiras.

E agora? Será que esse casamento é válido na legislação brasileira? Afinal, anos antes, seria um homem casando com outro.

Direito internacional privado é foda mesmo... por isso era uma das matérias mais temidas na faculdade.

terça-feira, 6 de maio de 2008

LIBERAL (OU NEM TANTO)

Há pouco tempo, publiquei um texto sobre o estereótipo do estudante universitário de tendência esquerdista. Mencionei, até, que este passa a vida a maldizer o capitalismo, para depois trabalhar no sistema financeiro.


Dia desses, percebi que um outro espécime universitário vem ganhando vulto: o estudante liberal. Não, amigo, não se trata daquele liberal de costumes (ou seja, moderninho, com opções - inclusive sexuais - bem variadas). Refiro-me ao liberal mesmo, no sentido econômico do termo. Ou seja, aquele para quem que toda riqueza é obtida pelo trabalho, defendendo a livre concorrência e a lei da oferta e da procura.


Revoltado com o processo de doutrinação esquerdista que ocorre em muitos ambientes universitários, esse estudante vive a idolatrar o modo de produção capitalista e a superestimar a dimensão do mercado no espaço público. Por isso, pretende que o Estado interfira o menos possível na economia e deixe a iniciativa privada - a panaceia universal - cuide de tudo (o tal "Estado Mínimo").


Até aí, não haveria nada de mais. Tudo bem em ser liberal. Mesmo não concordando na totalidade com essa linha de pensamento, tenho a consciência de que a universidade é um lugar para debates. Logo, é até bom que o espectro político seja variado. Os problemas desses estudantes são dois: 1) abominam tudo o que vem da esquerda; e 2) os liberais brasileiros não são tão liberais como proclamam.


Na falta de partidos que os representem, esses estudantes acabam por se filiar e a seguir fervorosamente os partidos considerados "de direita". E o problema está justamente nos partidos brasileiros "de direita", ditos liberais. Estes, na verdade, são conservadores, em todos os aspectos: político, econômico e de costumes.


Não é exagero dizer que a direita brasileira, no aspecto político, é pouco (ou nada) comprometida com a democracia. Seus expoentes filiaram-se a todas os regimes ditatoriais havidos na história republicana. Ainda hoje, se assim lhes convier, defendem a derrubada de governos que não lhes agradam.


Pior: seus expoentes são patrimonialistas, ou seja, costumam associar-se a um Estado que não possui distinções entre os limites do público e os limites do privado. Por isso que, no aspecto econômico, a direita brasileira, de liberal, não tem nada. Muitos de seus integrantes defendem que o Estado não intervenha na economia, a não ser, é claro, que essa intervenção lhes venha a trazer benefícios econômicos. Livre concorrência? Para quê? É bem melhor que o Estado lhes provenha oligopólios e maximize os lucros de suas empresas familiares.


Na verdade, apenas uma característica permite classificar a direita brasileira como tal. Trata-se do seu antagonismo com os partidos ditos "de esquerda", os quais - pelo que foi visto no noticiário político e policial recente - também apresentam um caráter patrimonialista. E assim, o espectro político brasileiro baseia-se mais em rivalidades pessoais do que programáticas.


Mas isso não importa para os liberais brasileiros. Se não é o seu grupo que está no poder, far-se-á oposição sistemática ao governante. Não importa a natureza da proposta, ou se vale a pena discuti-la. Esta advém dos "comunistas", logo, deve ser rejeitada.


Quando o assunto são os costumes, os liberais brasileiros acabam por revelar a sua face conservadora. Criticam, ardorosamente, qualquer proposta de discussão de temas "modernos", como, por exemplo, o aborto, os direitos homoafetivos ou a descriminalização das drogas. Tudo em nome da "tradição" e da "família". Estranho ser liberal assim.


Seria até bom que os tais estudantes liberais promovessem uma reforma na direita brasileira, pois falta aqui um partido sério nessa corrente de pensamento. Mas isso vai ser difícil. Por isso, seria mais proveitoso se esses estudantes rompessem com o passado e fundassem uma nova legenda, o que duvido que farão.


De toda forma, também sinto pena de muitos desses estudantes. Diante do mercado de trabalho restrito, é muito provável que, depois da formatura, acabem por fazer concursos públicos. Se forem aprovados, vão trabalhar para o Estado contra o qual tanto vociferaram. Se não o forem, suas críticas degeneram-se para o mero ressentimento de não ter entrado na festa.