terça-feira, 6 de maio de 2008

LIBERAL (OU NEM TANTO)

Há pouco tempo, publiquei um texto sobre o estereótipo do estudante universitário de tendência esquerdista. Mencionei, até, que este passa a vida a maldizer o capitalismo, para depois trabalhar no sistema financeiro.


Dia desses, percebi que um outro espécime universitário vem ganhando vulto: o estudante liberal. Não, amigo, não se trata daquele liberal de costumes (ou seja, moderninho, com opções - inclusive sexuais - bem variadas). Refiro-me ao liberal mesmo, no sentido econômico do termo. Ou seja, aquele para quem que toda riqueza é obtida pelo trabalho, defendendo a livre concorrência e a lei da oferta e da procura.


Revoltado com o processo de doutrinação esquerdista que ocorre em muitos ambientes universitários, esse estudante vive a idolatrar o modo de produção capitalista e a superestimar a dimensão do mercado no espaço público. Por isso, pretende que o Estado interfira o menos possível na economia e deixe a iniciativa privada - a panaceia universal - cuide de tudo (o tal "Estado Mínimo").


Até aí, não haveria nada de mais. Tudo bem em ser liberal. Mesmo não concordando na totalidade com essa linha de pensamento, tenho a consciência de que a universidade é um lugar para debates. Logo, é até bom que o espectro político seja variado. Os problemas desses estudantes são dois: 1) abominam tudo o que vem da esquerda; e 2) os liberais brasileiros não são tão liberais como proclamam.


Na falta de partidos que os representem, esses estudantes acabam por se filiar e a seguir fervorosamente os partidos considerados "de direita". E o problema está justamente nos partidos brasileiros "de direita", ditos liberais. Estes, na verdade, são conservadores, em todos os aspectos: político, econômico e de costumes.


Não é exagero dizer que a direita brasileira, no aspecto político, é pouco (ou nada) comprometida com a democracia. Seus expoentes filiaram-se a todas os regimes ditatoriais havidos na história republicana. Ainda hoje, se assim lhes convier, defendem a derrubada de governos que não lhes agradam.


Pior: seus expoentes são patrimonialistas, ou seja, costumam associar-se a um Estado que não possui distinções entre os limites do público e os limites do privado. Por isso que, no aspecto econômico, a direita brasileira, de liberal, não tem nada. Muitos de seus integrantes defendem que o Estado não intervenha na economia, a não ser, é claro, que essa intervenção lhes venha a trazer benefícios econômicos. Livre concorrência? Para quê? É bem melhor que o Estado lhes provenha oligopólios e maximize os lucros de suas empresas familiares.


Na verdade, apenas uma característica permite classificar a direita brasileira como tal. Trata-se do seu antagonismo com os partidos ditos "de esquerda", os quais - pelo que foi visto no noticiário político e policial recente - também apresentam um caráter patrimonialista. E assim, o espectro político brasileiro baseia-se mais em rivalidades pessoais do que programáticas.


Mas isso não importa para os liberais brasileiros. Se não é o seu grupo que está no poder, far-se-á oposição sistemática ao governante. Não importa a natureza da proposta, ou se vale a pena discuti-la. Esta advém dos "comunistas", logo, deve ser rejeitada.


Quando o assunto são os costumes, os liberais brasileiros acabam por revelar a sua face conservadora. Criticam, ardorosamente, qualquer proposta de discussão de temas "modernos", como, por exemplo, o aborto, os direitos homoafetivos ou a descriminalização das drogas. Tudo em nome da "tradição" e da "família". Estranho ser liberal assim.


Seria até bom que os tais estudantes liberais promovessem uma reforma na direita brasileira, pois falta aqui um partido sério nessa corrente de pensamento. Mas isso vai ser difícil. Por isso, seria mais proveitoso se esses estudantes rompessem com o passado e fundassem uma nova legenda, o que duvido que farão.


De toda forma, também sinto pena de muitos desses estudantes. Diante do mercado de trabalho restrito, é muito provável que, depois da formatura, acabem por fazer concursos públicos. Se forem aprovados, vão trabalhar para o Estado contra o qual tanto vociferaram. Se não o forem, suas críticas degeneram-se para o mero ressentimento de não ter entrado na festa.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sem generalizacacoes.

A esquerda, apesar de ainda ser predominante nos meios estudantis das faculdades, ja encontra opositores tanto na linha conservadora, abordadada por voce e tanto na linha libertaria, que e a minoria no debate sem duvida nenhuma, mas e real ao contrario do que voce expoem.