quinta-feira, 31 de maio de 2007

IRON MAN

Ao ler o título acima, alguns devem ter começado a cantarolar "Has he lost his mind? / Can he see or is he blind? / Can he walk at all? / Or if he moves will he fall?" Mas não, amigos, não se trata da música do Black Sabbath. Quem dera fosse! Na verdade, o título refere-se ao Iron Man, evento que reuniu algumas dezenas de desportistas neste fim de semana em Florianópolis.

Desportistas, não! Loucos, isso sim. Afinal, uma pessoa normal não se disporia a nadar 4,8Km, pedalar outros 100Km e por fim dar uma "corridinha" de 42Km em troca de um patrocínio meia-boca e 12 segundos na mídia. Por isso sou obrigado a concluir que os competidores, na verdade, gostam do sofrimento a que se submetem. Fazer o quê? Cada um com as suas psicopatias.

Porém, não é sobre o Iron Man em si que eu gostaria de comentar. E sim sobre a tremenda putaria que o Poder Público fez com o trânsito da cidade para que essa competição ocorresse. Alguém tentou dirigir em Floripa no dia da prova? Se tentou, garanto-lhe que deve ter chegado em casa no mínimo com vontade de atropelar um ciclista.

A cada evento "internacional", Floripa tem suas principais vias urbanas fechadas. Pode ser etapa do Iron Man, da Fórmula Renault, Festival de Axé ou a corrida dos cheiradores de lolozinho anônimos. Qualquer coisa serve para tornar a cidade um verdadeiro caos, do ponto de vista da circulação de pessoas. Fecham-se a Avenida Beira-mar, a Via Expressa Sul e a SC-401 (as três principais artérias de tráfego), enquanto os cidadãos (expliquemos aos governantes: ELEITORES) espremem-se em vias tortuosas construídas em 1915.

Digam-se, senhores: para quem é feita a cidade? Para seus habitantes, que pagam impostos (e elegem os que estão no poder), ou para os promotores de tais eventos? Não quero colocar-me contra a realização destes, até porque a visibilidade que dão à cidade movimenta a (parca) atividade turística daqui.

Não que os carros devam ser privilegiados. Em Brasília, a principal via da cidade (o Eixão) é fechada ao tráfego todos os domingos, para ser utilizada como pista de caminhada e ciclovia. Em lugar dos carros, ganha-se um espaço público que proporciona lazer a milhares de pessoas, e não um espaço privado para alguns promotores de eventos ganharem dinheiro em cima.

Pensemos no interesse público. Será que não existem outras vias da cidade que podem ser fechadas para sediar tal evento? Sugestão: a estrada do Rio Vermelho. Com certeza seriam muito menos os prejudicados do que os que o foram domingo passado. E, se formos fechar uma via para o tráfego, não é melhor fazermos para que a população em geral a utilize?


Update: desculpem-me pelo erro nas distâncias da prova. Segundo me informaram, são 3,8 km de natação, 180 km de ciclismo e 42 km de corrida. De qualquer maneira, ainda assim considero loucura percorrê-las.

4 comentários:

Gustavo disse...

Amorim, conheci o teu blog hj, está bem legal, mas quanto a este último post, sinceramente, não posso concordar contigo.

Cheguei em Floripa no dia do IronMan (por volta de 3 da tarde) e, como queria ver a prova fui direto pra Jurerê (local de maior concentração de pessoas e "QG" do evento). De carro, passei pela beiramar, SC 401, entrei em Jurerê e estacionei meu carro ao lado do Open Shopping.

Claro que levei um pouco mais de tempo que o normal, mas nada de extraordinário. Fiquei parado no trânsito duas vezes, no início da Beira-mar e na entrada de Jurerê, e mesmo assim por pouco tempo.

Putaria, na minha opinião, é o que acontece todo dia pra entrar e sair da ilha na hora do rush; putaria é meia dúzia de abobados irem fechar as pontes bem na hora do rush pq a passagem de ônibus aumentou (Vai protestar de outra forma); é a beiramar parada praticamente todo dia por volta das seis horas quando todos estão indo pra casa. Isso só pra ficar nas putarias do trânsito.

Acredito que eventos como o IronMan que movimentam a cidade por mais de uma semana, no inverno, com a presença de mais de mil atletas, acompanhados de família, treinadores entre outros só tem a aumentar, conforme citado, a visibilidade da cidade e movimentar a economia.

Queria lembrar que nem a Beira-Mar, nem nenhuma outra via foi completamente fechada durante a prova. Imagina fechar a estrada do Rio Vermelho, obrigando quem quisesse passar por lá a dar a volta pela SC-401. Com certeza nenhuma configuração ia agradar a todos. Mas, na minha humilde opinião, o fato de fechar uma pista em cada sentido da SC-401 não causou tanto transtorno assim, além de não impedir a passagem de ninguém.

Bem, acredito que é isso. Ah, e só uma correção: 3,8 km de natação, 180 km de ciclismo e 42 km de corrida.

Abraço

Fernando Silva disse...

Bem, é por isso que o texto está na secção "opinião". Afinal, ninguém é obrigado a concordar com ele.

E putaria também é cobrar R$2,40 por uma passagem de ônibus urbano.

A Beiramar, entre o El Divino e o Koxixos, foi completamente fechada nesse dia. Ao menos em suas 6 pistas mais utilizadas. Os motoristas foram obrigados a utilizar a via marginal.

RODRIGO CUNHA disse...

Fernando...

Bem polêmico esse post...

Mas vamos lá,

Transitei as 15h na beira-mar e também não encontrei problema. O que havia era algum movimento devido ao evento, nada demais. Mas sei de gente que chegou atrasada mais de 1 hora em seu destino. É aquela coisa, tem gente que foi afetada (esses reclamaram) e os que não foram afetados e acharam que tudo foi normal. Faz parte.

Quanto ao evento em si, acho importante a realização dele. Não acompanho aquele tipo de evento, mas acredito que sirva pra promover a cidade, já que como tu mesmo citou, investimento em turismo na ilha é pífio.

Sobre a putaria do transporte público, eu acho que que deve haver protesto TODOS OS DIAS SIM! R$2,40 nem é putaria, ja é orgia. Aí falam que cobram 2,40 pra estimular o usuário a usar o cartão eletrônico. BALELA! O estimulo já existe. Quem não tem cartão, simplesmente não usufrui da integração. Para que estímulo melhor?

O que estão fazendo é se aproveitar dos acomodados ou dos que não tem dinheiro suficiente no dia, para colocar créditos no cartão. Aí vão lá e metem a faca! Não apoio DE FORMA NENHUMA movimento de quebradeira. Mas, INFELIZMENTE, foi o que fez com que as passagens baixassem da última vez que isto aconteceu.

Também tem outra: No 1º mundo protesto é coisa NORMAL. Lá quando aumenta o pão, neguinho já reclama. Aqui no Brasil não é incomum ouvir alguém falar: "cambada de vagabundo desocupado, vão trabalhar"!

É isso! Parabéns pelo BLOG e pelos textos provocativos!

Abcs,

Rodrigo Cunha

Fernando Silva disse...

Ah, mas às 15 horas o evento já estava bem adiantado e rumando para o seu final. Quero ver é quem tentou transitar às 8 da manhã e ao meio dia. Às 13h, havia uma fila gigantesca que começava na Rua Hoepcke e se estendia pelas Avenidas Rio Branco e Paulo Fontes. Havia, também, outra fila que ia do Tribunal de Justiça até o Saco dos Limões, via José Mendes.

Como eu disse, não sou contra o evento em si, sou contra a apropriação do espaço público para fins privados. Vejam o exemplo do FloripaFolia: um show que poderia ser realizado em muitos lugares da cidade, mas que era feito de forma a fechar a fechar o túnel e vias adjacentes.